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Publicado decreto que facilita cadastro de pesquisa científica sem exploração econômica

Uma demanda antiga da comunidade científica de simplificação do cadastro de pesquisa científica sem exploração econômica, no Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético (SisGen), foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) dea segunda-feira (25). O decreto presidencial nº 10.844 de 25/10/2021 altera o decreto nº 8.772 de 11/05/2016, que dispõe sobre o acesso ao patrimônio genético, sobre a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado e sobre a repartição de benefícios para conservação e uso sustentável da biodiversidade. O novo decreto reduz a burocracia na ciência ao permitir a criação de um cadastro específico para as atividades de pesquisa sem exploração econômica.

Segundo o ministro substituto da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcelo Morales, a ação liderada pelo MCTI em articulação com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), simplifica as atividades dos pesquisadores com atuação no tema da biodiversidade e gera segurança jurídica ao setor acadêmico, impulsionando assim a pesquisa científica no Brasil.

“A riqueza da biodiversidade brasileira é um importante diferencial para o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico do País. Nosso patrimônio genético pode nos trazer soluções como novos medicamentos, novas moléculas sempre com uma exploração sustentável. Dentro dessa rica biodiversidade, pode estar a solução de alguns problemas importantes, como doenças ainda sem cura”, exemplificou Morales.

A professora do Departamento de Fisiologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), Lucile Winter, lembra que o novo decreto preserva o cumprimento da Lei da Biodiversidade (Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015). “É importante por não sobrecarregar o pesquisador que tem um volume grande de dados. A simplificação do cadastro poupa a necessidade de informações detalhadas da pesquisa, que podem ser buscadas em outras plataformas”, explica a pesquisadora, que até julho integrou a diretoria da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC).

O módulo de cadastro de pesquisas associado ao Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGen/MMA) está sendo desenvolvido em parceria com o Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP/MCTI), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI) e o Departamento do Patrimônio Genético da Secretaria de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (DPG/SisBio/MMA).

Com o novo decreto, o CNPq/MCTI fica responsável pela criação e manutenção do cadastro de pesquisa científica, de forma simplificada, com a finalidade exclusiva de pesquisa que não envolva exploração econômica.

O decreto entrará em vigor em180 dias, prazo para que o módulo de pesquisa esteja plenamente integrado e funcional ao SisGen – MMA.

Para acessar o texto do Decreto na íntegra, clique aqui.

Fonte: DOU: publicado decreto que facilita cadastro de pesquisa científica sem exploração econômica — Português (Brasil) (www.gov.br)

Pesquisa com macaco rhesus abre caminho para vacina contra a esquistossomose

Luciana Constantino | Agência FAPESP – Considerada uma das 17 doenças tropicais negligenciadas (DTNs) no mundo, a esquistossomose ainda é um importante problema de saúde pública no Brasil. No entanto, o único medicamento usado no tratamento foi descoberto há mais de 40 anos. Pesquisa publicada nesta terça-feira (26/10) na revista Nature Communications mostra um caminho para o desenvolvimento de novas terapias e até mesmo de uma vacina contra essa parasitose.

Um grupo que envolve cientistas do Instituto Butantan, da Universidade de São Paulo (USP) e de instituições internacionais descobriu o mecanismo pelo qual o macaco rhesus (Macaca mulatta) desenvolve naturalmente uma resposta imune duradoura contra a esquistossomose. Essa resposta leva à autocura da doença após um primeiro contato com o parasita Schistosoma mansoni e, além disso, possibilita que o organismo do animal reaja com mais rapidez a uma segunda infecção.

O trabalho, que recebeu apoio da FAPESP, identificou nove genes da via de autofagia do parasita inibidos pela defesa imune do primata, impedindo que o Schistosoma se multiplique e contamine o hospedeiro. A autofagia é um processo que dá origem à degradação de componentes da própria célula utilizando organelas conhecidas como lisossomos e desempenha função no crescimento celular, diferenciação e homeostase.

“A via de autofagia, executada por meio dos lisossomos que fazem a ‘limpeza’ das células, é afetada no parasita pelos anticorpos do macaco. Essa via é importante para a fisiologia basal do Schistosoma mansoni e não havia sido demonstrado seu envolvimento na autocura. Pelo contrário, foi pouco estudada até agora”, diz Murilo Sena Amaral, pesquisador do Laboratório de Parasitologia do Instituto Butantan e primeiro autor do artigo, em entrevista à Agência FAPESP.

O professor da USP e cientista do Butantan Sergio Verjovski-Almeida, coordenador do estudo, destaca que a autofagia é uma importante via de remodelamento dos tecidos do parasita durante seu ciclo de vida, principalmente quando este passa do estágio de cercárias para a fase adulta.

“Localizamos mais de cem genes afetados, porém, de vias diferentes. Não quer dizer que não sejam importantes, mas, quando se encontra nove dos dez genes da mesma via sendo atingidos, é possível dizer que há uma evidência muito grande de que esse caminho pode ser a chave para a vacina”, diz.

Outro ponto destacado por Verjovski-Almeida no trabalho foi o acompanhamento dos macacos entre a cura e o chamado segundo desafio, realizado 42 semanas após a primeira infecção, que mostrou a resistência dos primatas à reinfecção, eliminando de forma mais rápida o Schistosoma mansoni.

Em humanos, a esquistossomose tem cura quando o diagnóstico é feito na fase inicial da doença, eliminando o parasita do organismo e evitando o surgimento de complicações, como o aumento do fígado e do baço, além de anemia. No entanto, a pessoa não adquire imunidade como o macaco rhesus, podendo ser infectada novamente.

Estima-se que essa doença parasitária afete cerca de 200 milhões de pessoas no mundo, sendo quase metade crianças. Por ano, são aproximadamente 200 mil mortes.

No Brasil, a esquistossomose está presente em 18 Estados e no Distrito Federal – oito têm transmissão endêmica (Alagoas, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe, Espírito Santo e Minas Gerais). De acordo com dados do governo federal, 1,5 milhão de pessoas vivem em áreas sob o risco de contrair a doença. Nas regiões Nordeste e Sudeste a ocorrência está diretamente ligada à presença dos moluscos transmissores.

Entre 2009 e 2019, o país registrou 423.117 casos da doença, segundo o último boletim do Ministério da Saúde divulgado em março deste ano.

Popularmente conhecida como “barriga d’água” ou “mal do caramujo”, a doença está diretamente relacionada ao saneamento precário – a pessoa é infectada quando entra em contato com água doce onde existam caramujos contaminados pelo Schistosoma.

O ciclo da transmissão da esquistossomose começa quando um indivíduo já doente elimina ovos do parasita por meio das fezes e da urina, que vão parar em um ambiente de água não tratada. Os ovos eclodem e liberam larvas, contaminando assim caramujos de água doce, chamados de hospedeiros intermediários.

Neles, as larvas maturam e se multiplicam. Após quatro semanas são eliminadas novamente na água na forma de cercárias, podendo sobreviver por até 48 horas. Se algum ser humano andar descalço ou nadar nessa água, as cercárias penetram ativamente na pele por meio de enzimas que há em suas cabeças.

Após penetrar no ser humano, elas se desenvolvem e passam ao estágio de esquistossômulo, capazes de migrar pela corrente sanguínea e linfática e chegar aos pulmões e coração. Depois, como vermes adultos, se instalam dentro das veias dos intestinos, onde as fêmeas depositam cerca de 300 ovos por dia. Esses ovos são levados pela corrente sanguínea para o fígado, causando lesões. Alguns passam para as fezes.

O diagnóstico é feito por meio de exames laboratoriais das fezes. Já o tratamento para os casos simples é em dose única e supervisionada feito por meio de um medicamento chamado praziquantel, descoberto no início dos anos 1980 e distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Método

Para fazer a pesquisa, os cientistas trabalharam com 12 macacos rhesus, que foram infectados com 700 cercárias de Schistosoma mansoni e acompanhados até 42 semanas – durante as fases de estabelecimento, maturação e autocura.

Eles foram então expostos a uma reinfecção por 700 cercárias e monitorados por mais 20 semanas (até 62 semanas após a infecção inicial). O sangue foi coletado para estimativa da carga de vermes usando o nível de antígeno anódico circulante (CAA, sigla em inglês), para medida de marcadores inflamatórios e hematologia.

As fezes também foram analisadas para determinar o número de ovos por grama. Ao final, foi analisada a carga real do verme em cada primata.

Além disso, os cientistas fizeram, in vitro, ensaios com plasma contendo anticorpos do macaco e incubaram com parasitas jovens, detectando a morte deles. “Fizemos os ensaios para avaliar a expressão gênica e marcas da cromatina, que regulam os genes expressos a partir do DNA. Com isso, chegamos aos nove genes da via de autofagia”, explica Amaral.

Ao monitorar os níveis na corrente sanguínea do antígeno derivado do parasita, a pesquisa mostrou que a partir da décima semana uma infecção estabelecida com Schistosoma mansoni é eliminada, gerando resistência à reinfecção.

Os perfis de anticorpos sugerem que a proteção mediadora de antígenos são os produtos liberados do desenvolvimento de esquistossômulos. Na cultura, eles são mortos pela adição do plasma do macaco, coletado a partir da oitava semana após a infecção, e ainda mais eficientemente com plasma da reinfecção.

Além disso, os esquistossômulos cultivados perdem marcas de ativação da cromatina e mostram diminuição da expressão de genes relacionados aos lisossomos envolvidos na autofagia.

Futuro

Segundo o professor Verjovski-Almeida, o grupo está agora trabalhando na identificação dos alvos dos anticorpos. “Olhamos o fenótipo, ou seja, a consequência dos anticorpos que alteraram a expressão de genes da via. Agora, o próximo passo é verificar se esses e outros genes são alvos específicos”, conta.

A partir da identificação desses alvos, a ideia é testá-los como candidatos à vacina.

A pesquisa que resultou no artigo Rhesus macaques self-curing from a schistosome infection can display complete immunity to challenge recebeu o apoio da FAPESP por meio de seis projetos (15/06366-2, 18/15049-9, 18/23693-5, 19/09404-3, 16/10046-6 e 18/18117-5).

O artigo pode ser lido em: www.nature.com/articles/s41467-021-26497-0.

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Em mais um marco de sua trajetória BVS Rede de Informação e Conhecimento celebra seus 15 anos com Webinário

BVS RIC

Comemorando seus 15 anos a BVS Rede de Informação e Conhecimento – BVS RIC da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo – SES/SP, promoveu em 20 de outubro de 2021, um Webinário para registrar e compartilhar esta importante conquista. 

A dinâmica do evento contou com as coordenadoras da BVS RIC, Dra. Sueli Saes e Lilian Schiavon de forma presencial, seguidas pelas apresentações à distância do Dr. Diego Gonzalez, diretor da Bireme/OPAS/OMS e Renato Murasaki, Gerente da Bireme/OPAS/OMS, ambos muito importantes na história da BVS RIC, sempre apoiando de forma ampla e constante todas as ações desenvolvidas.  

O Webinário contou também com uma apresentação dos principais destaques da trajetória da BVS RIC, ressaltando projetos implementados neste período. E, finalizando o evento, os depoimentos dos Centros Cooperantes que acompanham e contribuem de forma ativa e constante para o sucesso da BVS RIC. 

Importante ressaltar que a BVS RIC promove e amplia a visibilidade da produção técnico-científica da SES/SP, além de reunir e preservar a memória técnica institucional, disponibilizando as fontes de informação da SES/SP organizadas e acessíveis a todos os tipos de públicos. 

Clique aqui para assistir o Webinário

Acreditamos neste projeto, em sua continuidade e agradecemos o empenho de todos. 

 

Coordenação da BVS Rede de Informação e Conhecimento
Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo 

Relatório traz dados originais sobre características da produção científica brasileira

 

Um estudo divulgado em junho pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, apresentou dados sobre a evolução recente da produção de conhecimento no país e os tópicos que mais mobilizam os pesquisadores. O trabalho, intitulado “Panorama da ciência brasileira: 2015-2020”, contabilizou 372 mil artigos indexados nesse período na base Web of Science (WoS) que têm pelo menos um autor vinculado a uma instituição do Brasil. Isso equivale a 3,2% do total mundial. Um dado eloquente é a velocidade com que a produção brasileira vem avançando: o número de papers cresceu 32,2% entre 2015 e 2020, acima da média mundial, que foi de 27,1%.

O levantamento utilizou uma metodologia peculiar para mapear os temas pelos quais os pesquisadores mais se interessaram nos últimos seis anos. Foi aplicada uma técnica de identificação de “similaridades semânticas” entre o conjunto de artigos: um algoritmo identifica, no resumo de cada paper, quais são as palavras mais relevantes, conectando-o com outros trabalhos que apresentam conteúdo semelhante. O resultado foi um mapa de 45 assuntos, ou agrupamentos temáticos. No topo aparece a educação, com mais de 16 mil artigos (ver quadro). “A escolha metodológica que fizemos permitiu quebrar a estrutura fixa das árvores de conhecimento utilizadas por grandes bases de indexação científica e vislumbrar aspectos que costumam ser pouco visíveis”, afirma Adriana Badaró, coordenadora do Observatório de Ciência, Tecnologia e Inovação do CGEE, responsável pelo estudo. “Esse tipo de análise, com maior foco na multidisciplinaridade, revela contribuições plurais de diferentes áreas de pesquisa.”

A educação, ela observa, não aparece nem entre as 10 áreas com maior produção científica na base WoS. Mas quando são identificados os papers de diferentes campos do conhecimento com resultados que convergem para o tema da educação, em áreas como ciência da informação, economia, artes e humanidades, o número de trabalhos é muito maior. De acordo com a análise, tópicos como identidade, diversidade cultural, gênero, educação especial e educação rural são abordados em conjunto com outros, como inclusão digital, novas tecnologias e educação a distância.

Nas redes de similaridade semântica, o segundo maior agrupamento reúne artigos sobre biodiversidade, em um esforço que mobiliza pesquisadores em trabalhos sobre a Amazônia, mudanças climáticas, taxonomia, sensoriamento remoto, entre outros. “A biodiversidade é o tema com maior potencial de aproximar diferentes conjuntos de saberes, desde as ciências médicas até as engenharias”, explica Badaró. Segundo sua avaliação, o mapeamento evidencia uma articulação dos pesquisadores em torno de temas importantes para o desenvolvimento do país, como saúde pública, agricultura e pecuária, cidades inteligentes, sustentabilidade, democracia e direitos.

A caracterização de redes semânticas para analisar tendências em grandes volumes de dados não é uma ferramenta nova, mas vem ganhando espaço na análise da produção científica com o avanço da inteligência artificial. Um estudo publicado em 2020 por pesquisadores da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, utilizou uma metodologia desse tipo para analisar o conteúdo de 1,2 milhão de teses de doutorado e concluiu que pesquisadores pertencentes a grupos com baixa representação no ambiente acadêmico, como mulheres e minorias étnicas, apresentam ideias inovadoras com frequência superior à média, mas não tem reconhecimento equivalente ao das apresentadas por grupos com alta representação (ver Pesquisa FAPESP nº 292). “A ferramenta nos pareceu interessante, porque um dos objetivos do Observatório de Ciência, Tecnologia e Inovação do CGEE é justamente analisar a produção científica brasileira com abordagens inovadoras”, afirma o sociólogo Marcelo Paiva, técnico da instituição.

Na avaliação de Renato Pedrosa, pesquisador do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (DPCT-Unicamp), as redes de similaridade semântica podem ajudar a complementar a compreensão sobre as características da produção científica, mas não têm força para substituir a forma tradicional de estimar os temas em que a comunidade científica produz conhecimento de alto impacto e é mais competitiva internacionalmente, o chamado índice de especialização. Esse indicador mostra se a participação dos pesquisadores de um país em determinada área do conhecimento é maior ou menor do que a média mundial. “As publicações com autores sediados no Brasil apresentam um elevado índice de especialização em áreas como agricultura e saúde pública, e ultimamente se destacaram em temas específicos de pesquisa, como os estudos sobre o vírus zika”, afirma Pedrosa, que é coordenador do Programa Especial de Indicadores da FAPESP.

Na avaliação do pesquisador, o mais prudente é cotejar o mapeamento semântico com outros indicadores. Ele observa que o terceiro mais importante agrupamento temático identificado pelo estudo do CGEE, formado por artigos sobre nanopartículas, pode passar a ideia de que o Brasil é forte nessa área do conhecimento, o que não encontra respaldo em outros trabalhos. Um relatório recente da Unesco, por exemplo, analisou o desempenho de países em seis tecnologias consideradas estratégicas para o futuro da indústria – entre as quais nanociência e nanotecnologia – e mostrou que o Brasil não está conseguindo acompanhar essa corrida global (ver Pesquisa FAPESP nº 306).

O estudo do CGEE traz dados atualizados sobre outros aspectos da produção científica brasileira. Entre 2015 e 2020, quase um terço (32,8%) dos artigos assinados por pesquisadores de instituições do país foi fruto de colaborações internacionais. Os Estados Unidos foram o principal parceiro – um em cada três desses artigos tem cooperação com cientistas norte-americanos. Em seguida, aparecem seis países europeus: Inglaterra, Espanha, França, Alemanha, Itália e Portugal. Apenas 11% dos artigos de pesquisadores brasileiros com colaboração internacional têm coautores de alguma nação do bloco Brics. As áreas da pesquisa brasileira com maior inserção internacional são astronomia e astrofísica, com 79% dos artigos escritos em colaboração com instituições do exterior, seguidas por ciências biomédicas (66%) e biologia evolucionária (64%). Já quando se analisa a produção científica apenas com autores do Brasil, o principal destaque é a agricultura, com um total de 21.029 artigos, em um universo de 372 mil analisados.

A resiliência da produção científica brasileira, apesar da perda de financiamento nos últimos cinco anos, pode ser explicada por vários fatores. Um deles tem a ver com a participação crescente de cientistas do país em redes internacionais. O físico Haroldo Ribeiro, pesquisador da Universidade Estadual de Maringá, no Paraná, afirma que a inserção internacional da nossa ciência vem servindo como amortecedor para as dificuldades de financiamento. “Há revistas internacionais que cobram US$ 2 mil para publicar um artigo, o que é proibitivo para muitos pesquisadores brasileiros. Não é incomum, por exemplo, que esse custo acabe sendo pago pelo parceiro no exterior”, afirma Ribeiro, que acaba de publicar um artigo sobre as características da produção científica de mais de 6 mil cientistas brasileiros (ver quadro acima). O bom desempenho também pode ser atribuído a investimentos feitos em períodos anteriores à crise atual. “Um artigo de uma revista indexada na Web of Science tem um ciclo de produção que se inicia vários anos antes de sua publicação”, diz Adriana Badaró, do CGEE. “O impacto que estamos vivendo atualmente em nosso sistema de ciência, tecnologia e inovação deve ser mais sentido nos anos vindouros, afetando as pesquisas que estão ainda em andamento”, diz.

Renato Pedrosa observa que houve uma desaceleração mundial na produção científica causada pela pandemia. Ele analisou dados recentes da base Web of Science e constatou que países com ciência bastante consolidada, como Estados Unidos e Alemanha, produziram menos artigos em 2020 do que em 2019, em uma queda inédita. “No Brasil e em outros países cuja produção científica crescia aceleradamente, como a China, não chegou a haver uma queda, mas há uma perda de velocidade”, afirma. No caso do Brasil, diz Pedrosa, o número de publicações na WoS subiu de 65,7 mil em 2019 para 68,4 mil em 2020. “O crescimento, de 2,7 mil publicações no ano passado, é pouco mais da metade do que o acréscimo de 5 mil, registrado entre 2018 e 2019”, afirma. Segundo ele, a formação em número crescente de mestres e doutores no Brasil é um dos fatores que ajudam a manter o ritmo da produção científica brasileira.

Prolíficos ou perfeccionistas

Ao analisar a produção científica ao longo da carreira de mais de 6 mil pesquisadores brasileiros de 14 disciplinas, a equipe do físico Haroldo Ribeiro, da Universidade Estadual de Maringá, no Paraná, identificou padrões distintos de comportamento em relação à publicação de artigos. O grupo estudado é uma espécie de pelotão de elite da comunidade científica nacional, composto por bolsistas de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Mais da metade deles exibiu um padrão de publicação dentro da média de sua disciplina, mas outros três grupos se destacaram: os hiperprolíficos, que produziram muitos artigos por ano; os perfeccionistas, que se destacaram por publicar em revistas de impacto mais elevado; e os hiperprolíficos/perfeccionistas, que conseguiram publicar muito e em revistas de prestígio. Esse último grupo era francamente minoritário: só 114 pesquisadores se encaixavam nesse perfil.

Um achado importante do estudo, recém-publicado na revista Physical Review Research, é que é muito raro um pesquisador hiperprolífico migrar para o grupo dos perfeccionistas ao longo da carreira, e vice-versa. “Há uma distinção clara entre duas estratégias, que não se alteram ao longo da carreira. Um grupo busca produzir em revistas de alto impacto enquanto outro busca publicar em quantidade, o que naturalmente dilui as chances de obter um impacto elevado”, afirma Ribeiro, que fez o trabalho com seu aluno de doutorado André Sunahara. De acordo com o artigo, a produtividade média dos pesquisadores avança 1,5 artigo por ano em cada década, mas o desempenho varia muito de acordo com as disciplinas. Na medicina, o incremento foi de 3,5 artigos por ano em uma década, enquanto em genética foi de 2, em agronomia, de 1,77, em matemática, de 0,44, e em engenharia elétrica de 0,3.

O trabalho baseou-se em informações dos currículos Lattes dos pesquisadores. Foram analisados 312.881 artigos que eles publicaram entre 1997 e 2015. Os dados foram cruzados com o fator de impacto das publicações, registrado no Journal Citation Reports, da empresa Clarivate. Um dos objetivos do trabalho, segundo Ribeiro, era avaliar até que ponto está acontecendo uma transição de comportamento, de um modelo que valoriza a quantidade de artigos publicados para outro que valoriza a qualidade. “Constatamos que o resultado varia muito entre as disciplinas, mas não há evidências de que haja uma transição em curso.”

 

Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

BVS Rede de Informação e Conhecimento completa 15 anos

A BVS Rede de Informação e Conhecimento da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo está completando 15 anos de atuação.

Com a missão de fortalecer a gestão da informação técnico-científica em saúde, sua trajetória neste período tem contribuído para ampliar a visibilidade da produção científica de âmbito institucional e consolidar as fontes de informação em saúde da SES/SP.

Para comemorar este feito, será realizado um Webinário em comemoração aos 15 anos da BVS RIC!


Participe conosco desta comemoração!

Dia 20/10/2021 das 14 às 15 horas

Acesso ao link de transmissão:

https://www.youtube.com/channel/UC04bxzJ3IyLH-G_h0olHvHw 

Clique aqui e confira a Programação

 

São Paulo avança no ranking das cidades que mais contribuem para a ciência de alto impacto mundial

Elton Alisson | Agência FAPESP – A cidade de São Paulo subiu 33 posições no Nature Index Science Cities – um suplemento do grupo Nature voltado a identificar as cidades que estão dando mais contribuições para a ciência de alto impacto no mundo.

Na edição de 2020, a capital paulista ocupou a 172ª posição no ranking, composto por 200 cidades. Na edição de 2021, saltou para a 139ª colocação e é a única cidade latino-americana a figurar na lista.

“Fazer ciência é uma atividade que antecede o aspecto de se fazer ciência de impacto e relevância. Em ambos os casos não é algo que se estabelece da noite para o dia. Requer décadas de investimento continuado e uma orientação estratégica para isso. Neste sentido, a FAPESP vem consistentemente apoiando pesquisas de maior ousadia, primeiro com os Projetos Temáticos e depois com os programas CEPID e Jovem Pesquisador. E em um passado mais recente vem sistematicamente alinhando suas ações aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável [ODS] da Organização das Nações Unidas [ONU]. É muito bom ver os frutos dessa ação de longo prazo”, comenta Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP.

“Acreditamos que o investimento em longo prazo é crucial para a ciência. São Paulo é uma cidade que, apesar de qualquer mudança que possa ocorrer no cenário político ou econômico, sempre manteve como prioridade o investimento em ciência e tecnologia por meio da FAPESP, uma das maiores financiadoras da ciência no país, além do apoio federal”, diz Adiene Teixeira, diretora de vendas para América Latina e Caribe da editora Springer Nature.

“Atribuímos também [a presença de São Paulo no ranking] ao investimento feito por meio do portal de periódicos Capes, um dos maiores consórcios mundiais para acesso à informação científica. O acesso à informação é um dos pilares importantes do quebra-cabeça da produção científica de alto impacto”, avalia Teixeira.

O ranking é baseado nas afiliações institucionais dos autores de artigos publicados em 82 periódicos científicos de alto impacto internacional monitorados pelo Nature Index, incluindo as revistas Nature, Science e Cell. Os periódicos foram selecionados por comitês independentes de pesquisadores líderes em ciências naturais, que foram solicitados a indicar os periódicos nos quais gostariam de publicar seus melhores trabalhos. Suas deliberações foram validadas por uma pesquisa com mais de 6 mil cientistas em todo o mundo.

A atual edição da lista cobre artigos publicados entre 1º de janeiro de 2015 e 31 de dezembro de 2020, abrangendo o início da pandemia de COVID-19. A participação de cada cidade é calculada somando a contribuição das instituições afiliadas situadas nelas.

A cidade de Pequim, na China, lidera o ranking pelo quarto ano seguido, à frente de Nova York, Boston, San Francisco e Xangai.

“Acreditamos que vários fatores podem estar envolvidos na melhoria da colocação de São Paulo na lista, como maior quantidade de estudos por conta da COVID-19 e aumento da produção científica em revistas de alto impacto, dentre outras questões que podem ser exploradas em detalhes pelos estudiosos em bibliometria, que são os reais especialistas nesses tipos de estudos”, afirma Teixeira.

Contribuições aos ODS

Também foram ranqueadas as cidades que estão dando mais contribuições para que sejam atingidos os 17 ODS com base no rastreamento de pesquisas publicadas nos 82 periódicos monitorados pelo Nature Index e relacionadas à agenda mundial preconizada pela ONU.

São Paulo também foi a única cidade latino-americana a figurar nesse ranking, ocupando a 141ª posição.

A cidade de Pequim novamente liderou a lista, seguida por San Francisco, Nova York, Baltimore e Boston.

“Grandes instituições de pesquisa federais, além das principais universidades do país, estão localizadas em São Paulo. E elas acabam recebendo a atribuição de desenvolver pesquisas importantes sobre os temas relacionados aos ODS”, avalia Teixeira.

Prêmio de mentoria em ciência

O Brasil foi o país selecionado este ano para o prêmio Nature Research Awards for Mentoring in Science, lançado em 2005 com o objetivo de reconhecer mentores científicos.

Serão concedidos dois prêmios, no valor de US$ 10 mil cada, sendo um para mentor em meio de carreira e outro para pesquisador com uma longa trajetória de realizações em mentoria.

Os indicados para o prêmio devem estar atuando em qualquer disciplina dentro das ciências naturais ou sociais, incluindo ciências aplicadas, e estar trabalhando atualmente no Brasil.

As inscrições devem ser feitas até a próxima segunda-feira (11/10) pelo site https://natureawards.submittable.com/submit/201099/the-nature-mentoring-awards-2021-primary-nomination-form-form-one.

 

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Trabalho realizado no Instituto Adolfo Lutz comprova a importância da administração da dose de reforço da vacina para COVID-19 em idosos e profissionais da área da saúde

Pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz publicaram recentemente um artigo na Rev. Panam. Salud Publica, que descreve casos de doença e óbito em pessoas vacinadas contra a COVID-19, cujas amostras biológicas foram encaminhadas ao IAL para sequenciamento de SARS-CoV-2.

O interessante é que os resultados obtidos corroboram a necessidade da dose de reforço da vacina em idosos e profissionais da saúde (nada mais atual), bem como a manutenção de medidas não farmacológicas de prevenção da doença.

Este trabalho integra também o repositório IRIS (Instituttional Repository for Information Sharing) da PAHO.

Para acessar o artigo, clique aqui.