Vacina contra a dengue desenvolvida no Instituto Butantan vence o Prêmio Péter Murányi 2023

Agência FAPESP – O projeto que possibilitou o desenvolvimento de uma vacina tetravalente contra a dengue, desenvolvido no Instituto Butantan, foi o vencedor da edição de 2023 do Prêmio Péter Murányi, que teve como foco pesquisas em saúde. A votação ocorreu na última quinta-feira (02/03).

Conhecida pelo nome de Butantan-DV, a formulação está na reta final dos testes em humanos. O estudo, possivelmente o maior ensaio clínico de uma vacina já feito no país exclusivamente por pesquisadores brasileiros, conta com a participação de aproximadamente 17 mil voluntários com idades entre 2 anos e 59 anos em 13 Estados.

Dados preliminares encaminhados à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em dezembro de 2022 indicam que o imunizante é seguro e tem eficácia de 79,6%. Os eventos adversos graves foram raros: três casos (ainda não especificados) ou 0,03% do total. Entre os efeitos colaterais mais comuns estão dor, inchaço e vermelhidão no local da picada e, em casos mais raros, febre e manchas vermelhas pelo corpo que desapareceram em horas. O ensaio clínico deve ser concluído em meados de 2024, quando se completarão cinco anos de acompanhamento do último participante a ingressar na pesquisa.

A Butantan-DV começou a ser desenvolvida no instituto paulista em 2010, em parceria com o National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos, e com apoio da FAPESP (leia mais em: agencia.fapesp.br/20882/ e agencia.fapesp.br/22424/).

Produzida com vírus atenuado, a formulação tem potencial para proteger contra os quatro vírus da dengue com uma única dose. Os ensaios clínicos tiveram início em 2013 com apoio da Fundação Butantan e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no âmbito do projeto “Desenvolvimento de uma vacina tetravalente contra a dengue”, coordenado pela pesquisadora Neuza Frazatti Gallina, que representou a equipe do Butantan durante a cerimônia de premiação ao lado de Claudia Botelho.

“Somente no Brasil, em 2022, aproximadamente 1,4 milhão de pessoas foram acometidas com essa doença, resultando em inúmeras hospitalizações e cerca de mil mortes. O combate do mosquito transmissor da dengue tem sido completamente ineficiente. Assim, somente esta vacina vai ser capaz de controlar a doença”, disse Frazatti Gallina em vídeo apresentado na cerimônia.

A pesquisadora acredita que, além do impacto para a saúde pública, haverá também um impacto econômico importante. “Reduz os custos com hospitalizações e com as ausências no trabalho de pessoas acometidas”, afirmou.

O segundo colocado na premiação foi o projeto “Vigilância digital como ferramenta inovadora para o enfrentamento da atual e futura pandemias: da avaliação de eficácia vacinal à previsão de novas emergências”, desenvolvido na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sob a coordenação do pesquisador Manoel B. Netto.

A proposta é usar o grande volume de dados produzido no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) de forma integrada para detectar novos surtos causados por vírus respiratórios (Projeto Aesop) e para avaliar a efetividade de novas vacinas em curto espaço de tempo (Projeto VigiVac).

Em terceiro lugar ficou o projeto “Soberania tecnológica no desenvolvimento de vacinas humanas no Brasil: Vacina SpiN-Tec MCTI UFMG”, coordenado por Ricardo Gazzinelli no Centro de Tecnologia de Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (CTVacinas-UFMG).

Atualmente na primeira fase de testes em humanos, a vacina contra a COVID-19 desenvolvida no Brasil busca induzir no organismo a chamada resposta imune celular, ou seja, a produção de células de defesa (linfócitos T) especializadas em reconhecer e matar o novo coronavírus. Em tese, esse tipo de proteção permaneceria eficaz mesmo diante do surgimento de novas variantes. Os testes pré-clínicos foram conduzidos em parceria com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e contaram com apoio da FAPESP. Os resultados foram divulgados em agosto de 2022 na revista Nature Communications (leia mais em: agencia.fapesp.br/39467/ e agencia.fapesp.br/40153/).

Ao todo, 138 trabalhos foram indicados por 70 instituições de todo o país para participar da 21ª edição do Prêmio Péter Murányi. Os três finalistas foram escolhidos pela Comissão Técnica & Científica, composta por Arnaldo Lopes Colombo (Universidade Federal de São Paulo), Francisco Laurindo (USP), Iscia Lopes Cendes (Universidade Estadual de Campinas) e Luisa Lina Villa (USP).

Instituída em 1999, a premiação é promovida anualmente com o objetivo de reconhecer e premiar trabalhos que, de forma inovadora e prática, contribuam para a melhoria da qualidade de vida das populações. Ao todo oferece R$ 250 mil aos finalistas, além de troféu e certificado de reconhecimento público.

 

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.