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Iniciativas defendem o acesso aberto à publicação acadêmica

Karina Toledo  |  Agência FAPESP – O acesso a 80% dos artigos científicos publicados atualmente no mundo é dificultado pelo chamado paywall, sistema usado pelas grandes editoras para restringir o conteúdo de suas revistas aos assinantes.

Há, no entanto, um movimento pelo acesso aberto universal ao conhecimento científico que tem se fortalecido nos últimos anos e diversas iniciativas, com diferentes abordagens, têm surgido.

Representantes de cinco importantes iniciativas que visam revolucionar o sistema de publicação acadêmica estiveram reunidos em São Paulo, no dia 1º de maio de 2019, para trocar experiências e alinhar estratégias. O encontro ocorreu paralelamente à 8ª Reunião Anual do Global Research Council (GRC), organização que reúne as principais agências de fomento à pesquisa do mundo.

“Todos compartilhamos os mesmos princípios. Entendemos que o conhecimento científico é um bem comum, pois foi financiado com dinheiro público. Portanto, o acesso a esse conteúdo deve ser um direito”, disse Marc Schiltz, presidente da Science Europe, organização que congrega diversas instituições europeias que financiam e realizam pesquisa.

O objetivo comum do grupo, segundo Schiltz, é alcançar o acesso aberto universal e imediato às publicações acadêmicas, ou seja, sem período de embargo. Outro princípio defendido é que o conhecimento publicado tenha licença aberta, podendo ser reutilizado por outras pessoas sem pagamento de royalties. “A reunião do GRC é uma excelente oportunidade de encontrar financiadores de diversos países e de promover a nossa agenda”, disse.

Na abertura do workshop, o diretor científico da FAPESP, Carlos Henrique de Brito Cruz, afirmou que a Fundação tem se preocupado com o tema desde pelo menos 1997, quando teve início o projeto Scientific Electronic Library Online (SciELO). “Não ousaria dizer que inventamos o conceito de acesso aberto, mas fazemos parte desse movimento desde seus primeiros dias”, disse.

Representando o SciELO no evento estava o diretor e cofundador do programa, Abel Packer. “Somos uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos em todos os campos do conhecimento. A maior parte da coleção é financiada pelo sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação. Publicamos em torno de 15 mil artigos por ano e temos um repositório digital com 800 mil artigos. Nosso maior interesse é a visibilidade das publicações. Temos um sistema para medir citações e downloads”, disse. 

Outra iniciativa apresentada foi o Plan S, apoiado por um consórcio internacional de financiadores de pesquisa chamado cOAllition S. Entre os idealizadores está a Science Europe. O grupo propõe que, a partir de 2020, as publicações científicas oriundas de pesquisa financiada com recursos públicos sejam necessariamente divulgadas em periódicos ou plataformas de acesso aberto. Isso significa que – caso grandes editoras não se adaptem aos novos tempos – revistas hoje consideradas padrão-ouro deixarão de ser a primeira opção dos pesquisadores.

Representando o Plan S no encontro esteve David Sweeney, presidente da Research England. “Nós, financiadores de pesquisa, não podemos resolver sozinhos a questão do acesso aberto, mas somos um elemento essencial e precisamos trabalhar juntos, assumir a responsabilidade de nosso papel no sistema acadêmico. Não é possível lidar com essa questão sem considerar as implicações na avaliação de pesquisas”, disse.

Colleen Campbell, da Max Planck Digital Library, apresentou a Open Access 2020 Initiative. A estratégia principal do grupo é promover os transformative agreements (acordos de transformação). A ideia é realocar os mesmos recursos hoje gastos com a assinatura de periódicos para apoiar modelos de negócio sustentáveis de acesso aberto. A mesma fonte que hoje financia a assinatura da revista passaria a financiar a publicação no modelo acesso aberto.

Arianna Becerril, diretora da Rede de Revistas Científicas da América Latina e Caribe, Espanha e Portugal (Redalyc) – uma biblioteca digital que adota modelo parecido com o do SciELO – apresentou a AmeliCA, iniciativa voltada a promover o conhecimento aberto para a América Latina e o Sul global.

Molapo Qhobela, da National Research Foundation (NRF), da África do Sul, apresentou a African Open Science Platform.

Schiltz anunciou no final do workshop que as cinco iniciativas elaboraram em conjunto uma declaração de princípios para orientar os integrantes do movimento pelo acesso aberto e alinhar as diferentes estratégias. O documento em breve estará disponível no site da Science Europe.

“Vivemos um momento em que a possibilidade de virar o sistema de publicação acadêmica na direção do acesso aberto está ao alcance. O sistema atual está se tornando insustentável. Há uma enorme quantidade de dinheiro público sendo absorvida para pagar assinaturas de jornais, sendo que os resultados publicados também foram produzidos com dinheiro público. Esses movimentos representam um sinal de que a comunidade científica está disposta a reaver o controle do sistema de publicação”, disse Schiltz.

Mais informações sobre a 8ª Reunião Anual do Global Research Council: www.fapesp.br/eventos/grc.  

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

FAPESP lança livro sobre ciclo de palestras apresentadas na Alesp

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Foi lançado nesta segunda-feira (22/04), na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), o livro Ciclo ILP-FAPESP: Ciência e Inovação 2017-2018. A publicação reúne a cobertura jornalística feita pela Agência FAPESP dos 11 debates promovidos até o fim do ano passado no âmbito do Ciclo ILP-FAPESP, com cientistas e pesquisadores apoiados pela Fundação.

A parceria entre o Instituto do Legislativo Paulista (ILP) e a FAPESP, iniciada em outubro de 2017, resultou em uma série de palestras sobre temas variados de ciência, tecnologia e inovação.

“Os debates do Ciclo ILP-FAPESP são uma forma de prestar contas para a sociedade e para a própria Alesp sobre as atividades da FAPESP. Para a Fundação também é importante se aproximar da Assembleia, contribuindo com informações sobre ciência, tecnologia e inovação para a formulação de políticas públicas e para o desenvolvimento econômico e social de São Paulo”, disse Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da FAPESP.

Para Vinicius Schurgelies, diretor-presidente do ILP, a parceria é uma oportunidade de levar para a Alesp a difusão dos conhecimentos científicos.

“É importante que esses conhecimentos fiquem próximos da sociedade, principalmente de quem elabora políticas públicas. De alguma maneira as palestras podem qualificar o debate nesta casa e auxiliar o processo de produção do Legislativo”, disse.

Durante o período contemplado no livro, foram feitas 11 apresentações sobre temas de saúde, meio ambiente e recursos hídricos, movimentos demográficos, empreendedorismo inovador, novas tecnologias associadas à qualidade de vida, inovações na agricultura e na indústria e inteligência artificial.

“Tivemos eventos muito interessantes nesse período. Um deles, sobre recursos hídricos, precisou mudar de auditório porque havia muitos inscritos. O debate de inteligência artificial também mobilizou um interesse muito grande, sobretudo de jovens. Esses temas das novas tecnologias e os ligados a políticas públicas que afetam o cidadão têm chamado muita gente, causando debates mais acalorados”, disse Pacheco.

As palestras do Ciclo ILP-FAPESP continuam em 2019 – duas já foram realizadas este ano. A proposta é que, a cada mês, pesquisadores e cientistas paulistas mostrem na Alesp resultados de pesquisa e descobertas feitas no Estado de São Paulo.

No período 2017-2018, os debates levaram mais de 1.800 pessoas para a Assembleia. “O Ciclo ILP-FAPESP já está alcançando duas legislaturas diferentes. Esperamos que tenha mais permeabilidade dentro dos gabinetes e com os legisladores, ressaltando o quanto a pesquisa e o conhecimento podem colaborar na formulação de políticas públicas mais efetivas”, disse Schurgelies.

“Além da presença de deputados – e não apenas os da Comissão de Ciência e Tecnologia –, tivemos também a presença de representantes de embaixadas. Isso mostra que o ciclo serviu como um canal para trazer a representatividade consular para dentro da casa. Essas pessoas estavam muito interessadas no que o Brasil está produzindo, nas patentes geradas e no que possa colaborar para a produção das leis”, disse Schurgelies.

A versão digital do livro Ciclo ILP-FAPESP: Ciência e Inovação 2017-2018 pode ser acessada em www.fapesp.br/publicacoes/2019/cicloilp.pdf.

 

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Como sobreviver sem assinar revistas científicas

Universidades de vários países estão criando novos arranjos para ampliar o acesso à literatura científica depois de suspender contratos de assinaturas com grandes editoras, considerados caros e abusivos. Para atender ao menos em parte as necessidades de informação de seus alunos e pesquisadores, as instituições apostam em ferramentas que ajudem a localizar na internet cópias de papers disponíveis em acesso aberto e no apoio de redes de bibliotecas e de mídias sociais para obter artigos de conteúdo restrito. A Universidade da Califórnia (UC), nos Estados Unidos, por exemplo, anunciou em fevereiro o rompimento com a editora holandesa Elsevier, por meio do qual, a um custo de quase US$ 11 milhões por ano, seus 273 mil estudantes e 68,4 mil docentes e pesquisadores podiam ler documentos publicados em 2,4 mil periódicos. Responsável por cerca de 10% de toda a produção científica norte-americana, a UC pressionava a Elsevier a aceitar um novo acordo, em que fariam parte de um único pacote o preço das assinaturas e as taxas pagas pelos pesquisadores da universidade para publicar seus artigos em acesso aberto em títulos da editora. A Elsevier insistiu em manter o esquema tradicional para a maioria de seus periódicos, cobrando assinaturas e taxas de publicação de artigos e exigindo quantias extras quando o autor quer divulgar seu paper livremente na web.

Sem poder consultar as revistas, a UC reuniu em uma página da internet um conjunto de caminhos alternativos para seus estudantes e pesquisadores. Sugeriu a eles adotar estratégias como a busca de papers em bases de dados acadêmicas, a exemplo do Google Scholar e do PubMed, e o uso de programas plugins, que oferecem funcionalidades específicas em navegadores da internet – nesse caso, localizar cópias em PDF de artigos científicos. Se isso não for suficiente, a recomendação é pedir ajuda às bibliotecas de seus 10 campi, que integram redes nas quais se compartilham artigos e livros, ou então usar redes sociais acadêmicas, em que é possível solicitar trabalhos diretamente a seus autores. “Apoiamos nossos professores, alunos e funcionários empenhados em quebrar as barreiras que impedem o compartilhamento de pesquisas inovadoras”, disse, em comunicado, a presidente da universidade, a advogada Janet Napolitano.

A estratégia da UC não chega a ser original. Recentemente, instituições de ensino superior da Alemanha, da Suécia e da Noruega também decidiram não renovar assinaturas de revistas da Elsevier e adotaram expedientes parecidos. “Essas ferramentas digitais deram às universidades um poder de barganha inédito”, avalia Abel Packer, coordenador da biblioteca de revistas de acesso aberto SciELO Brasil. “Antigamente, cortar assinaturas seria impraticável, pois inviabilizaria o trabalho dos pesquisadores. Hoje, as universidades têm alternativas.” Esse movimento ganhou mais fôlego em setembro do ano passado, quando a União Europeia e agências de fomento à pesquisa de 14 países lançaram o Plan S, iniciativa de alcance internacional que estabelece a partir de 2020 a publicação imediata em acesso aberto de artigos que receberam financiamento público (ver Pesquisa FAPESP nº 276).

 

Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.