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Janssen promove desafio de Inovação para COVID19 e Tuberculose Resistente a Drogas

A COVID19 impõe novos desafios e preocupações, já que pacientes e sobreviventes com comprometimento respiratório e/ou dano pulmonar podem ser mais vulneráveis a complicações graves. Além da vulnerabilidade individual, a pandemia perturbou seriamente e enfraqueceu os sistemas já frágeis de atendimento aos pacientes com Tuberculose resistente a drogas (TB-DR).

Portanto, existe uma clara necessidade de envolvimento e inovação da comunidade, com o objetivo de resolver a continuidade dos serviços de TB-DR durante e após a pandemia, uma vez que as operações dos sistemas de saúde levarão tempo para retornar à normalidade.

Para esse fim, buscamos propostas inovadoras, fáceis de implementar e que possam começar a ter impacto imediatamente.

Clique aqui para conhecer os detalhes e submeter sua proposta até dia 19 de maio de 2020.

 

Pesquisadores do Butantan combinam técnicas de biotecnologia para formular vacina contra COVID-19

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP – Pesquisadores do Instituto Butantan vão combinar técnicas inovadoras de biotecnologia para formular uma nova vacina contra COVID-19. O objetivo é induzir no organismo, de modo mais efetivo, diferentes tipos de resposta imune contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2).

A nova estratégia é inspirada em um mecanismo usado por certas bactérias para “despistar” nosso sistema imune: elas liberam pequenas esferas feitas com o material de suas membranas como iscas para desviar a defesa do organismo. Essas vesículas, denominadas membranas pelos pesquisadores, têm a propriedade de ativar intensamente o sistema imunológico e, por isso, atraem células e moléculas da defesa do organismo.

Os pesquisadores vão aproveitar esse artifício das vesículas de membrana e acoplar a elas proteínas de superfície do novo coronavírus. Criadas em laboratório, essas vesículas atrairiam a defesa imune contra as proteínas de superfície do SARS-CoV-2, induzindo uma memória a ser mobilizada no caso de uma eventual infecção. A formulação estimularia não só a produção de anticorpos, mas também de outras células ligadas ao sistema imune, como macrófagos e glóbulos brancos.

“Para essa abordagem, juntamos duas estratégias diferentes que já vínhamos utilizando no desenvolvimento de vacinas contra outras doenças. A nova técnica permite que as formulações contenham uma grande quantidade de um ou mais antígenos do vírus em uma plataforma fortemente adjuvante, induzindo uma resposta imune mais pronunciada”, diz Luciana Cezar Cerqueira Leite, pesquisadora do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do Instituto Butantan.

O estudo, apoiado pela FAPESP, integra uma plataforma de pesquisa que envolve o desenvolvimento de vacinas para coqueluche, pneumonia, tuberculose e esquistossomose, com base em técnicas desenvolvidas para a BCG recombinante (usada para prevenir formas graves de tuberculose em crianças). Recentemente, foi criada uma nova linha no projeto voltada ao desenvolvimento de uma vacina para a COVID-19.

“No mundo todo, e aqui no Brasil também, estão sendo testadas diferentes técnicas. Muitas delas têm como base o que já estava sendo desenvolvido para outros vírus, como o que causou o surto de SARS em 2001. Esperamos que funcionem, mas o fato é que ninguém sabe se vão realmente proteger. Neste momento de pandemia, não é demais tentar estratégias diferentes. A nossa abordagem vai demorar mais para sair, mas, se aquelas que estão sendo testadas não funcionarem, já temos os planos B, C ou D”, diz a pesquisadora.

Muitas vacinas consistem em soluções com o patógeno morto ou atenuado. São as chamadas vacinas celulares que, ao serem injetadas no indivíduo, têm por objetivo desenvolver a resposta imune contra o microrganismo, como anticorpos específicos e outras células de defesa de modo seguro, sem sofrer as consequências da doença. Dessa forma o indivíduo fica imunizado, tendo uma “memória de combate” do próprio sistema imune contra um determinado patógeno.

“As vacinas celulares são formas simples, e com frequência eficazes, de se obter um imunizante, porém, essas abordagens nem sempre funcionam, principalmente para patógenos com grande variabilidade antigênica ou organismos mais complexos, com mecanismos de evasão do sistema imune mais sofisticados”, diz a pesquisadora.

Estratégias combinadas

O grupo do Butantan propõe a combinação de duas estratégias para o desenvolvimento de uma vacina acelular. De um lado, tem-se as proteínas recombinantes de antígenos de superfície do novo coronavírus, que têm o papel de deflagrar a produção de anticorpos específicos contra o SARS-CoV-2. De outro lado, utiliza-se vesículas de membrana externa (Outer membrane vesicles conhecidos como OMVs) como matriz suporte dos antígenos, para que a partícula mimetize o vírus.

“As vesículas de membrana externa podem modular a resposta imunológica, em geral, aumentando e melhorando a proteção. Muitas vacinas têm o hidróxido de alumínio como principal adjuvante. No nosso caso, usaremos as OMVs para uma apresentação do antígeno com forte poder adjuvante embutido, que garante uma resposta melhor”, diz.

Para isso, a vacina em desenvolvimento no Butantan usará uma plataforma inovadora de apresentação de antígenos chamada Multiple antigen presenting system (MAPS), desenvolvida por um colaborador da Universidade de Harvard (Estados Unidos) e usada em uma formulação experimental contra o pneumococo.

Basicamente, o complexo molecular é montado por um sistema de acoplamento semelhante ao usado para detecção na reação de ELISA (ensaio de imunoabsorção enzimática), muito usada em diagnósticos. Esse tipo de teste de laboratório é usado para detectar anticorpos contra um determinado patógeno e assim diagnosticar doenças. No processo desenvolvido em Harvard, um ou vários antígenos são ligados a polissacarídeos das cápsulas das bactérias, como se fossem peças de encaixar.

“É uma plataforma que permite a ligação não-covalente de proteínas de forma muito eficiente, permitindo saturar a superfície da OMV com as proteínas do vírus, tornando-as bastante imunogênicas”, disse Cerqueira Leite à Agência FAPESP.

A ideia de usar as OMVs partiu da observação de uma estratégia que determinadas bactérias gram-negativas adotam para escapar do sistema de defesa do hospedeiro. “Quando infectam organismos, as bactérias produzem essas vesículas a partir de sua própria membrana externa. O intuito é atrapalhar a resposta do sistema imunológico. Anticorpos e outras células relacionadas ao sistema imune ficam tentando matar as vesículas em vez de atacar as bactérias, que ficam livres para se multiplicar no organismo”, diz.

Na nova formulação, a presença dessas vesículas extracelulares tem a função de estimular a resposta imunológica. “Elas são muito imunogênicas. Estudos recentes mostram que têm grande capacidade de ativar células dendríticas e macrófagos”, diz.

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

COVID-19: Repositório de estratégias de busca elaboradas pela BIREME e Rede de Referencistas

Bireme/OPAS/OMS disponibiliza estratégias de busca específicas para vários aspectos do COVID-19:

Coronavírus – COVID-19 – Saúde Mental
17/04/2020
Filtro temático sobre saúde mental durante pandemía do Coronavírus-COVID-19 para Vitrine do Conhecimento

Coronavírus – COVID-19 – Tratamento
17/04/2020
Filtro temático sobre Tratamento de Coronavírus-COVID-19 para Vitrine do Conhecimento

Coronavírus – COVID-19 – Transmissão e Diagnóstico
17/04/2020
Filtro temático sobre transmissão e diagnóstico de Coronavírus-COVID-19 para Vitrine do Conhecimento

Coronavirus – COVID-19 – Prevenção e Controle
17/04/2020
Filtro temático sobre prevenção e controle para Coronavírus-COVID-19 para Vitrine do Conhecimento

Coronavírus – COVID-19 – Preparação e Resposta
17/04/2020
Filtro temático sobre Preparação e Resposta para Coronavírus-COVID-19 para Vitrine do Conhecimento

Coronavírus – COVID-19 – Pesquisa
16/04/2020
Filtro temático sobre Pesquisas sobre Coronavírus-COVID-19 para Vitrine do Conhecimento

Coronavírus – COVID-19 – Epidemiologia e Estudos epidemiológicos
16/04/2020
Filtro temático sobre Epidemiologia e Estudos epidemiológicos para Vitrine do Conhecimento

Coronavirus – COVID-19
24/03/2020
Filtro temático geral para Vitrine do Conhecimento

Para acessar estratégias de busca para outros temas, clique aqui.

Butantan vai desenvolver em laboratório anticorpos para tratamento de COVID-19

André Julião | Agência FAPESP – Um grupo de pesquisadores do Instituto Butantan trabalha no desenvolvimento de um produto composto por anticorpos para combater o novo coronavírus (SARS-CoV-2). Os anticorpos monoclonais neutralizantes, como são chamados, serão selecionados de células de defesa (células B) do sangue de pessoas que se curaram da COVID-19. A ideia é encontrar uma ou mais dessas proteínas com a capacidade de se ligar ao vírus com eficiência e neutralizá-lo. As moléculas mais promissoras poderão, então, ser produzidas em larga escala e usadas no tratamento da doença.

Coordenado pela pesquisadora Ana Maria Moro e apoiado pela FAPESP, o projeto utiliza uma plataforma criada para o desenvolvimento de anticorpos monoclonais (mAbs) humanos para diferentes doenças, que está em fase avançada para obtenção de anticorpos monoclonais para o tratamento de zika e tétano.

“Começamos a desenvolver essa plataforma em 2012 com os mAbs humanos antitetânicos, com apoio da FAPESP, e identificamos uma composição de três anticorpos que neutralizam a toxina do tétano. Depois, estabelecemos um acordo com a Universidade Rockefeller, nos Estados Unidos, sob coordenação de Michel Nussenzweig, para gerar linhagens celulares para mAbs antizika, que foram identificados no seu laboratório durante a epidemia da doença, em 2015. São dois mAbs neutralizantes que poderão ser usados na proteção de gestantes em caso de retorno da circulação desse vírus. É um processo longo, mas já estamos começando o trabalho com o novo coronavírus”, disse Moro à Agência FAPESP.

O trabalho segue um princípio parecido com o da transferência passiva de imunidade – técnica que consiste na transfusão de plasma sanguíneo de pessoas curadas da COVID-19, que também está sendo desenvolvida no Brasil (leia mais em: agencia.fapesp.br/32940/).

O plasma – parte líquida do sangue – de pessoas que se curaram da COVID-19 é naturalmente rico em anticorpos contra a doença. Ao entrar na corrente sanguínea de uma pessoa doente, essas proteínas começam imediatamente a combater o novo coronavírus.

No entanto, ainda não se sabe exatamente quais anticorpos estão combatendo o microrganismo. Além disso, diferentes doadores podem ter quantidades maiores ou menores dos chamados anticorpos neutralizantes, que não só reconhecem como eliminam o vírus. A técnica de transferência passiva de imunidade depende ainda de constantes doações de plasma para manter os estoques.

“No caso dos anticorpos monoclonais, um líquido composto por um ou mais anticorpos selecionados entre os mais eficientes é produzido em larga escala, de forma recombinante, por cultivos celulares no que chamamos de biorreatores”, explica a pesquisadora.

Atualmente, existem mais de 70 biofármacos à base de anticorpos monoclonais aprovados para uso clínico no mundo. A maioria é voltada ao tratamento do câncer e doenças autoimunes e vários, mais novos, para outras condições, como o combate ao vírus ebola. Há ainda centenas de produtos em diferentes estágios de ensaio clínico.

Recrutamento de convalescentes

A primeira parte do trabalho é o recrutamento de voluntários convalescentes da COVID-19, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), onde Moro também atua como professora, e com a Rede Vírus (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações). Com o sangue coletado dos voluntários, os pesquisadores realizarão uma série de processos de biologia molecular a fim de identificar, nos linfócitos B, as sequências de genes que expressam os anticorpos neutralizantes.

Cada anticorpo será então caracterizado quanto à sua ação perante o vírus, como capacidade de ligação, especificidade e afinidade, reatividade cruzada com outros anticorpos e capacidade de neutralização.

Entre um e três anticorpos que tiverem maior eficiência nesses critérios serão então testados em animais. No caso do vírus zika, um anticorpo apenas havia sido selecionado devido à sua capacidade neutralizante. Quando testado em animais, porém, ele sozinho não deu conta de suprimir o vírus pelo mecanismo de escape viral. Foi então agregado um segundo anticorpo, que, em conjunto com o anterior, mostrou-se efetivo. No caso do tétano, foram três anticorpos selecionados para a terapia contra a toxina causadora da doença.

Identificados os genes, a etapa seguinte consiste na transfecção dos que produzem os anticorpos mais promissores em células para gerar as linhagens recombinantes permanentes. No desenvolvimento da linhagem celular, são produzidos muitos clones, que são isolados, caracterizados quanto às propriedades celulares (crescimento, viabilidade, produtividade) e do anticorpo expresso pela ação esperada (ligação, afinidade, capacidade de neutralização)

Os resultados são levados em consideração para selecionar os melhores clones, que podem ser produzidos em larga escala num biorreator para, então, serem levados aos ensaios pré-clínicos e clínicos.

 

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.