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Comunicação científica: acesso amplo e equânime ao conhecimento

 

Foto: Seungyeon Kim / Getty Images | Detalhe estante: Léo Ramos Chaves

Uma biblioteca digital brasileira que garante amplo acesso ao conhecimento em diferentes disciplinas exibe indicadores vigorosos de desempenho, mas, ao mesmo tempo, vive incertezas sobre seu futuro. O Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) permitiu, em duas décadas de existência, a consulta a cerca de 1,5 bilhão de artigos e outros documentos científicos – a cada mês são cerca de 15 milhões de downloads. Esse material provém de mais de 49,2 mil periódicos científicos, 139 bases de dados e 12 plataformas de patentes, cuja leitura, em grande parte dos casos, exigiria que o usuário pagasse assinaturas ou taxas. Por meio do portal, pesquisadores e alunos afiliados a 426 instituições públicas do país, entre universidades, sociedades científicas e instituições de pesquisa, têm acesso livre a esse conteúdo. Isso custou aos cofres da Capes no ano passado cerca de R$ 380 milhões – os contratos com as editoras são em geral pagos em dólar norte-americano. Em valores corrigidos, o total investido pelo governo federal entre os anos de 2001 e 2020 chega perto de R$ 6 bilhões.

Esse panorama dos 20 anos de atividade do Portal de Periódicos emerge de um estudo feito por Welandro Damasceno Ramalho, publicado no final de 2020 na Revista Brasileira de Pós-graduação. O trabalho é fruto de seu doutorado, defendido recentemente no Programa de Educação em Ciências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, cujo objetivo principal era mostrar as diversas fases pelas quais a biblioteca digital passou em sua trajetória. Ele coletou dados oficiais sobre o portal e analisou 390 contratos celebrados entre a Capes – agência de fomento do Ministério da Educação (MEC) – e editoras internacionais. “Os resultados mostram a importância que a biblioteca digital adquiriu na educação superior brasileira”, afirma Ramalho, que é analista de ciência e tecnologia da Capes desde 2009 e participa, no âmbito da Coordenação de Contratos da agência, da negociação com editoras de publicações científicas. “O grande número de acessos e a expansão dos conteúdos oferecidos ao longo do tempo sugerem que a estratégia de democratizar o acesso ao conhecimento por instituições de todas as regiões do Brasil teve grande alcance como uma política de Estado.”

As incertezas em relação ao futuro do portal estão vinculadas a mudanças recentes na comunicação científica. O modelo da aquisição de assinaturas está sendo progressivamente substituído por outro, no qual o acesso às revistas é livre e o custo é pago por quem publica, não por quem lê. “A Capes terá o desafio de fazer uma transição de forma a utilizar esses recursos, hoje investidos no acesso a periódicos fechados, no custeio da publicação de artigos em periódicos abertos, como já vem acontecendo em acordos celebrados por universidades e instituições de diversos países incentivados pelo chamado Plano S”, afirma Abel Packer, coordenador da biblioteca de revistas de acesso aberto SciELO Brasil, referindo-se à estratégia que entrou em vigor neste ano, impulsionada sobretudo em países da Europa (ver Pesquisa FAPESP nº 299).

O Portal de Periódicos foi criado em um momento em que a produção científica do planeta crescia a taxas elevadas e as bibliotecas e universidades brasileiras enfrentavam dificuldades para financiar o acesso de seus pesquisadores a esse conhecimento, publicado em periódicos franqueados apenas para assinantes. Um embrião do portal foi criado em São Paulo, em 1999, quando a FAPESP implementou o Programa Biblioteca Eletrônica (ProBE), que permitia a consulta pela internet a conteúdo de revistas científicas, em especial as da base Web of Science (WoS), utilizando os recursos da Rede Eletrônica do Estado de São Paulo (Rede ANSP). A princípio, o serviço foi disponibilizado para oito universidades públicas instaladas no estado, mas logo se expandiu para 32 instituições de ensino e pesquisa paulistas. “A experiência da FAPESP serviu de exemplo para a criação do Portal de Periódicos, agora com alcance nacional”, explica o bioquímico Jorge Guimarães, presidente da Capes entre 2004 e 2015. Com a consolidação do portal, o programa da FAPESP foi encerrado em 2003.

Em sua primeira configuração, em 2001, a biblioteca alcançava 72 instituições de ensino e pesquisa do país, um sexto do contingente que atinge atualmente, e oferecia os textos completos de 1,9 mil periódicos. Os primeiros anos foram marcados por certa instabilidade. “No início, existia por parte de alguns pesquisadores resistência ao uso da tecnologia para ter acesso a periódicos e muita gente achava que a iniciativa não vingaria”, explica Ramalho. “Em 2002, houve mudança de governo, e o MEC cogitou encerrar as atividades do portal para reduzir custos. Mas houve reação da comunidade científica e muita gente defendeu a importância do serviço. O ministério não apenas manteve o portal como, a partir de então, vem garantindo seu financiamento com valores robustos, mesmo em momentos de contenção orçamentária”, afirma.

A pesquisa de Ramalho fez algumas descobertas curiosas. Constatou, por exemplo, que a ideia segundo a qual o portal franqueava exatamente o mesmo conteúdo a todas as instituições não era, tecnicamente, correta. Como os acordos com as editoras tinham de três a cinco anos de duração, as novas universidades incorporadas nem sempre tinham o mesmo acesso a periódicos das mais antigas – isso só acontecia quando os contratos eram renovados.

Se o crescimento de consultas e instituições participantes revela o alcance da biblioteca, há uma dificuldade de medir o seu impacto na qualidade da ciência brasileira. “Isso seria possível se algumas instituições tivessem acesso e outras não. Como o conteúdo foi franqueado a todas, não há como comparar”, diz José Roberto de França Arruda, professor da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de Campinas (FEM-Unicamp) e membro da Coordenação Adjunta de Ciências Exatas e Engenharias da FAPESP. Ele, contudo, não duvida de que o impacto é muito grande. “Não há como fazer pesquisa na fronteira do conhecimento sem acesso ao estado da arte da literatura científica. Os cientistas precisam saber o que os colegas de outros países estão produzindo para se engajar nos desafios científicos de suas áreas”, afirma. Segundo Welandro Ramalho, o impacto do portal provavelmente é maior do que qualquer estatística poderia sugerir. “Nem tudo o que um pesquisador lê se torna referência bibliográfica em seus trabalhos. E, mesmo quando um artigo consultado não é aproveitado, ele ajudou o pesquisador a se manter atualizado e a construir o conhecimento”, diz.

Um impacto perceptível, observa o ex-presidente da Capes Jorge Guimarães, foi o crescimento da produção de artigos de revisão por pesquisadores brasileiros. “Antigamente, havia uma enorme dificuldade de escrever artigos que fazem revisão da literatura, porque os autores não tinham acesso a tudo o que se produziu. Com o Portal de Periódicos, essa dificuldade foi virtualmente eliminada”, explica.

A iniciativa do Portal de Periódicos é única em tamanho e alcance. Países como Chile e Portugal criaram programas semelhantes, mas em uma escala menor. Na maioria das nações, os contratos com editoras para ter acesso a periódicos são negociados de forma descentralizada por universidades ou consórcios de bibliotecas. Outra característica é a abrangência por áreas do conhecimento. Dados do Relatório Anual da Capes de 2018 indicavam que as ciências da saúde e as ciências humanas respondiam, cada uma, por 18,8% dos periódicos disponíveis no portal, seguidas pelas ciências sociais aplicadas (14,7%), as ciências exatas e da Terra (14,3%), as ciências biológicas (11,4%), entre outras.

A incorporação de universidades e instituições de pesquisa deu dois grandes saltos: o primeiro, em 2009, quando passou de 194 para 311 instituições afiliadas, e o outro, em 2012, quando alcançou 417. Em 2015 chegou ao pico de 436, 10 a mais do que hoje. A Sociedade Brasileira de Física, por exemplo, optou por deixar de ter acesso à biblioteca, porque seus pesquisadores já podiam consultar o conteúdo nas instituições a que são vinculados. Para definir a coleção de periódicos, a Capes levou em conta novas demandas de pesquisadores e o uso efetivo da coleção, monitorado pelas estatísticas de utilização do portal. Nos últimos cinco anos, com a alta do dólar e as restrições orçamentárias do MEC, a Capes tem procurado racionalizar o uso do portal e diminuir valores de contratos. “Foi necessário negociar com as editoras a proposta de aplicação de algum percentual de redução nos valores cobrados e, embora elas não gostem de divulgar isso, uma parte razoável aceitou dar alguns descontos”, afirma Ramalho.

As negociações com as editoras são renovadas a cada ano e já existe um impacto nos contratos causado pelo movimento de ampliar o modelo de acesso aberto a revistas científicas. “Quando uma editora decide migrar uma revista para o modelo de acesso aberto, o periódico deixa prontamente de fazer parte dos contratos, pois não faria sentido pagar pelo que está disponível de graça. Mas a revista segue disponível no portal, agora sem custo”, explica Ramalho. O Portal de Periódicos também dá acesso a coleções de acesso aberto, como as revistas da biblioteca SciELO, além de conteúdos como o Banco de Teses e Dissertações da Capes, que são públicos.

Na avaliação de Abel Packer, a Capes deveria barganhar com as editoras em moldes semelhantes ao que já ocorre na Europa e nos Estados Unidos. Nos chamados acordos transformativos, os recursos utilizados com assinaturas são transferidos para o pagamento de taxas de publicação de artigos em revistas que se comprometem a ampliar progressivamente suas atividades em acesso aberto (ver Pesquisa FAPESP nº 299). “A Capes sempre promoveu negociações com inteligência e profissionalismo, e agora deveria fazer uso desses recursos robustos de que dispõe para obter acordos que viabilizem a publicação em acesso aberto, que parece ser o caminho do futuro”, sugere Packer. Arruda, da Unicamp, tem preocupação semelhante. “O portal tem muito o que comemorar nos últimos 20 anos, mas os desafios que surgiram pelas mudanças na comunicação científica são gigantescos. Seria importante que as agências de fomento à pesquisa tivessem uma resposta convergente a esses desafios, a fim de que os recursos hoje utilizados no pagamento de assinaturas ajudem a financiar a publicação de artigos em acesso aberto”, diz. Ramalho avalia que o modelo do portal provavelmente precisará se adequar a novas realidades. “Mas hoje ele cumpre um papel indispensável para a comunidade científica e não poderia, nesse momento, ser abruptamente substituído por outro que não viesse a garantir a qualidade dos conteúdos e recursos científicos atualmente disponibilizados no portal.”

Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

 

FAPESP lança dois editais para apoiar projetos sobre os impactos socioeconômicos e de saúde da COVID-19

Covid-19

Agência FAPESP – A ciência respondeu com as vacinas à maior crise sanitária global dos últimos cem anos. O desafio agora é encontrar soluções para reduzir os impactos sociais, econômicos e de saúde pública da COVID-19. Mais ainda: é preciso contribuir para que o futuro pós-pandêmico seja mais justo, resiliente e sustentável do que o mundo antes da pandemia.

Várias instituições já se mobilizam nesta direção. Em novembro de 2020, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou o documento United Nations Research Roadmap for the COVID-19 Recovery, em que apela às agências de fomento de todo mundo para elencar prioridades de pesquisa em áreas estratégicas, com o objetivo de subsidiar políticas públicas voltadas à recuperação socioeconômica das nações (leia mais em: agencia.fapesp.br/34627).

Em maio de 2021, a Trans-Atlantic Platform (T-AP) for Social Sciences and Humanities lançou chamada de propostas para apoiar estudos colaborativos nas áreas de ciências sociais e humanidades, a serem realizados nos dois lados do Atlântico.

A FAPESP, que participou ativamente da elaboração do United Nations Research Roadmap for the COVID-19 Recovery e é membro coordenador da T-AP, aderiu a essa mobilização.

“A pandemia conferiu caráter de urgência à solução de uma série de problemas com os quais o Brasil e diversos países em todo o mundo convivem há muito tempo. É hora de somar esforços e empreender a colaboração em pesquisas que subsidiem a formulação de políticas públicas voltadas à recuperação social e econômica das nações”, diz Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP.

A Fundação lançou, em maio de 2021, duas chamadas de propostas para a seleção de projetos: a Chamada de Rápida Implementação UN-Research Roadmap COVID-19, com prazo de submissão até 10 de julho, e a Chamada T-AP Recovery, Renewal and Resilience in a Post-Pandemic World. Esta segunda é uma parceria com 15 outras fundações de fomento à pesquisa das Américas, Europa e África. O período de manifestação de interesse de submissão termina em 14 junho, e o prazo de submissões de propostas, no dia 12 de julho.

Chamada UN-Research Roadmap COVID-19

No âmbito do edital UN-Research Roadmap COVID-19 serão financiados projetos de pesquisa, preferencialmente em colaboração com pesquisadores de outros países ou outros Estados brasileiros, por um período de até 24 meses. Serão aceitos projetos que complementem ou ampliem pesquisas já em execução por outros pesquisadores. A FAPESP financiará o pesquisador do Estado de São Paulo.

O valor total alocado pela FAPESP para a chamada é de R$ 18,5 milhões. Além do limite de R$ 300 mil para os itens orçamentários típicos de um Auxílio Pesquisa Regular, o pesquisador poderá solicitar uma bolsa de pós-doutorado ou uma bolsa de treinamento técnico nível 5 (TT-5) como item orçamentário (BCO).

A FAPESP realizou um webinar para esclarecimentos da chamada. Marta Arretche, membro da Coordenação Adjunta de Ciências Humanas e Sociais da FAPESP e do Comitê Gestor da chamada, gravou um vídeo com detalhes sobre o edital.

Plataforma Transatlântica (T-AP)

Integram a T-AP Recovery, Renewal and Resilience in a Post-Pandemic World agências de fomento e financiadoras de pesquisa da África do Sul, Alemanha, Brasil, Canadá, Colômbia, Croácia, Estados Unidos, Finlândia, França, Polônia, Suíça e Reino Unido. A FAPESP é a organização líder para a chamada.

“Realizamos outras chamadas nesse mesmo modelo, mas esta tem um significado muito especial, pois é essencial em todo o mundo encontrar melhores maneiras de lidar com o impacto da pandemia no médio e longo prazo, construindo assim um ambiente mais adequado para vivermos”, sublinhou Ted Hewitt, da Social Sciences and Humanities Research Council (SSHRC), do Canadá.

Os cinco principais temas de pesquisa relacionados à chamada são: redução das desigualdades e vulnerabilidades; construção de uma sociedade mais resiliente, inclusiva e sustentável; fomento da governança democrática e da participação política; avanço da inovação digital responsável e inclusiva; e garantia da comunicação e mídia eficazes e precisas.

Uma das principais especificidades da chamada está no fato de a equipe de pesquisadores ter de ser formada por membros de pelo menos três países participantes, sendo pelo menos um país das Américas e um da Europa. Os projetos serão financiados pela agência do país do pesquisador líder por um período de 24 a 36 meses. Os valores financiados variam de uma financiadora para outra. No caso da FAPESP, cada proposta poderá ter o valor máximo de R$ 450 mil; as agências dos Estados Unidos oferecem US$ 200 mil por projeto, as do Reino Unido, £ 310 mil, e a Alemanha, € 300 mil.

“Como cada organização tem suas próprias regras e restrições sobre elegibilidade, é de extrema importância que os candidatos, além de lerem o edital, se concentrem também nos termos adicionais de cada organização”, ressaltou Claudia Bauzer Medeiros https://bv.fapesp.br/pt/pesquisador/2091/claudia-maria-bauzer-medeiros, membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em eScience e Data Science e do Comitê Gestor da chamada.

A FAPESP também realizou um webinar para esclarecimentos desta chamada, com participação de todas as agências de fomento envolvidas. O vídeo está disponível em www.youtube.com/watch?v=RjrpbE4-hwQ.

 

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

BVS RIC participa do Plano de Ação 2021 para o Fortalecimento da Rede BVS Brasil

Coordenado pela Bireme/OPAS/OMS, o Plano de Ação 2021 tem como objetivo trabalhar com a Rede BVS Brasil para fortalecer a Biblioteca Virtual em Saúde, por meio da adoção do novo Instrumento de Maturidade da BVS.

Este instrumento visa promover uma análise de cada BVS por meio de uma auto-avaliação, utilizando elementos de boas práticas, ferramentas de medição, critérios de análise para identificar o nível de qualidade, bem como aspectos que devem ser focados e desenvolvidos por seus coordenadores e sua rede para a melhoria contínua da BVS.

 

Há 4 níveis de classificação em diferentes níveis de maturidade:
NÍVEL 1 – Foco na criação de consciência e adoção do Modelo
NÍVEL 2 – Foco na implementação de melhores práticas
NÍVEL 3 – Foco na gestão para melhoria contínua
NíVEL 4 – Foco na inovação e manutenção da estratégia de sucesso

Após sua auto-avaliação a BVS RIC foi classificada no nível de maturidade 3.

Para ver o relatório da BVS RIC, clique aqui.

Para saber mais sobre o instrumento de maturidade, clique aqui.

FAPESP lança chamada para a constituição de Centros de Ciência para o Desenvolvimento

Agência FAPESP – A FAPESP lançou nesta quinta-feira (27/05) chamada de propostas para a constituição de Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCD-SP), que deverão conduzir pesquisa orientada a problemas específicos e com relevância social ou econômica para o Estado de São Paulo.

A chamada contempla projetos nas áreas de saúde, eficiência energética, agricultura e abastecimento, manufatura e materiais avançados, cidades inteligentes e segurança pública, meio ambiente e sustentabilidade, cultura e economia criativa e esportes.

Os CCD-SP deverão articular em torno desses temas pesquisadores de universidades e instituições de pesquisa paulistas, pesquisadores e gestores de órgãos do governo estadual e de municípios, além de empresas e organizações não governamentais (ONGs), em projetos colaborativos de impacto social ou econômico.

O anúncio do edital foi realizado no Palácio dos Bandeirantes, na presença do governador João Doria; da secretária de Desenvolvimento Econômico Patrícia Ellen; do senador Izalci Lucas, presidente da Frente Parlamentar Mista de Ciência,Tecnologia, Pesquisa e Inovação; do deputado Carlão Pignatari, presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, e de outros secretários de Estado.

“São Paulo é a força que conduz a economia do Brasil. E o maior investimento em ciência do pais está em São Paulo”, sublinhou o governador. Patrícia Ellen afirmou que, desde o lançamento do primeiro edital Ciência para Desenvolvimento, em dezembro de 2019, está comprovado que é possível “fazer gestão baseada na ciência, em dados e em evidências”.

O presidente da FAPESP, Marco Antonio Zago, informou que os Centros de Ciência para o Desenvolvimento integram uma série de iniciativas aprovadas pelo Conselho Superior da Fundação para incentivar pesquisas orientadas a missão. “Essa estratégia expande o espectro de atuação da FAPESP, sem prejuízo de projetos mais tradicionais, cujos recursos seguem preservados.” Zago anunciou também o lançamento do site que indexa programas e projetos da FAPESP aos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, marcando o início da celebração dos 60 anos da Fundação a serem comemorados em 23 de maio de 2022.

Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP, detalhou as áreas e os temas de pesquisa que deverão pautar os projetos, que podem ser submetidos à FAPESP até 24 de setembro de 2021, e ressaltou: “A participação de órgãos de governo na composição das propostas para a constituição dos Centros de Ciência para o Desenvolvimento é fundamental”.

Participaram da cerimônia de lançamento do edital reitores de universidades estaduais, diretores de institutos de pesquisa e pesquisadores, entre outros. Antes do evento, todos os participantes realizaram testes rápidos para a detecção do novo coronavírus.

Modelo de cofinanciamento

Os centros irão operar em modelo de cofinanciamento, envolvendo órgãos governamentais (secretarias estadual ou municipal), parceiros adicionais do setor empresarial ou não governamental e a FAPESP. A FAPESP prevê aportar até R$ 120 milhões por um período de até cinco anos para apoiar os centros selecionados. É obrigatório que, para cada R$ 1 solicitado à Fundação, haja contrapartida financeira idêntica das entidades cofinanciadoras.

As propostas deverão ser apresentadas por equipes capacitadas e com ampla experiência de pesquisa nacional e internacional, governança clara e efetiva, mecanismos de revisão e metas intermediárias de sucesso bem definidas. Os projetos devem ser apresentados por meio do Sistema de Apoio à Gestão (SAGe) até 10 de setembro de 2021.

As propostas devem descrever claramente quais são os desafios públicos e problemas de interesse do órgão público envolvido (secretaria estadual ou municipal) relevantes para o desenvolvimento do Estado de São Paulo. A lista de desafios propostos por seis secretarias de Estado está detalhada na chamada.

“O número de problemas enfrentados por qualquer sociedade moderna é não apenas extenso, mas também extremamente variado. A capacidade da ciência de entregar soluções satisfatórias ficou muito clara, para toda a sociedade, com o desenvolvimento de vacinas em tempo recorde, no enfrentamento da presente pandemia. Nesta chamada planejamos nos valer desse impulso para aproximar ainda mais a academia das principais questões de nossa sociedade”, disse o diretor científico da FAPESP.

Gestão dos CCD-SP

Cada um dos CCD-SP será dirigido por um Comitê Executivo (CE), composto pelo pesquisador responsável, que será o diretor e responsável pelo projeto perante a FAPESP; por um vice-diretor, apontado pela entidade parceira entre seu quadro de pesquisadores com qualificação e experiência comprovadas; por um coordenador de comunicação; e um coordenador de parcerias.

Na proposta submetida à FAPESP, os proponentes deverão também especificar a composição de um Comitê Consultivo Internacional (CCI), formado por pesquisadores brasileiros ou estrangeiros, de universidades, institutos de pesquisa ou empresas, renomados internacionalmente no campo de foco da pesquisa a ser desenvolvida. O CCI terá a função de orientar a operação do centro, instruindo a equipe com relação a novas oportunidades de pesquisa e novas direções, visando ao aumento de sua competitividade internacional.

A chamada está publicada em: https://fapesp.br/14897.

12 centros já estão em operação

Esta é a segunda chamada de propostas para a constituição de centros de pesquisa orientados a problemas específicos e cofinanciados por órgãos públicos, entre outros parceiros.

Na primeira chamada, lançada em 2019, foram habilitados 12 centros de pesquisas – denominados Núcleos de Pesquisa Orientados a Problemas de São Paulo (NPOPs) – que investigam soluções nas áreas de saúde, segurança pública, alimentação e agricultura, desenvolvimento econômico, entre outros temas (leia mais em agencia.fapesp.br/34906/).

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

FAPESP indexa programas e projetos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU

Agência FAPESP – A FAPESP inaugura hoje (27/05) o site Pesquisa, Inovação e Parcerias para a Agenda 2030, que indexa todos os programas da Fundação e os projetos apoiados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

O novo site será anunciado às 15 horas pelo presidente da FAPESP, Marco Antonio Zago, durante cerimônia de lançamento da chamada para a constituição de Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CDC-SP), no Auditório Ulysses Guimarães do Palácio dos Bandeirantes, com a presença do governador João Doria e da secretária de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen.

Os ODS resumem um apelo da Organização das Nações Unidas (ONU) para mobilização global contra a pobreza e em defesa do meio ambiente e do clima, de forma a garantir que as pessoas, em todo o mundo, desfrutem de paz e prosperidade. “A iniciativa da FAPESP de classificar a pesquisa realizada em São Paulo a cada um dos ODS tem como objetivo mostrar o seu compromisso com a sustentabilidade, a equidade e o bem-estar de todos os brasileiros”, explica o presidente da FAPESP.

O lançamento do site Pesquisa, Inovação e Parcerias para a Agenda 2030 marca também o início de uma série de atividades que, ao longo dos próximos meses, celebrarão os 60 anos da FAPESP, a serem comemorados em 23 de maio de 2022. Nesta data, em 1962, a FAPESP teve seu estatuto aprovado pelo Decreto nº 40.132 e iniciou sua operação.

A programação inclui diversas iniciativas, muitas delas implementadas em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), Academia Brasileira de Letras (ABL), Academia de Ciências do Estado de São Paulo (Aciesp) e as universidades estaduais paulistas.

O site está disponível no endereço: https://ods.fapesp.br/

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Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Grupo liderado por pesquisadores do Instituto Butantan e financiado pela FAPESP realiza o primeiro sequenciamento genético de serpente brasileira

André Julião | Agência FAPESP – Um grupo liderado por pesquisadores do Instituto Butantan e financiado pela FAPESP realizou o primeiro sequenciamento genético de uma serpente brasileira. O estudo, publicado na revista PNAS, sugere que a origem de nove genes que produzem as toxinas do veneno na jararaca (Bothrops jararaca) provavelmente se deu pela transformação direta de genes que, originalmente, tinham funções diferentes no ancestral da espécie.

“Com o sequenciamento do genoma da jararaca, identificamos marcadores que permitiram comparar os genes que produzem toxinas com os que estão na mesma posição em genomas de outros animais, como serpentes sem veneno, lagartos e anfíbios. Observamos que nove dos 12 tipos de genes que produzem a peçonha na jararaca eram muito parecidos com aqueles encontrados na mesma posição da sequência de DNA dessas outras espécies. Isso nos permite afirmar que a maioria dos genes de toxina provavelmente surgiu a partir de elementos que já existiam naquele local do genoma do ancestral comum a todos esses animais”, explica Inácio Junqueira de Azevedo, pesquisador do Instituto Butantan e coordenador do estudo.

Azevedo é um dos pesquisadores principais do Centro de Toxinas, Resposta-Imune e Sinalização Celular (CeTICS), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP.

“Esses genes exerciam papéis fisiológicos num ancestral comum de todas essas espécies. Em algum momento, eles provavelmente começaram a apresentar uma atividade semelhante à de toxinas, foram selecionados para esse caminho e, assim, perderam a função original. Esse estudo trouxe elementos para entender a evolução das toxinas e quais foram os mecanismos que levaram alguns genes a serem recrutados para exercer essa nova função como produtores de componentes de veneno”, conta Diego Dantas Almeida, um dos autores principais do estudo, realizado durante seu doutorado, com apoio da FAPESP.

O sequenciamento mostrou ainda que dois genes que codificam importantes toxinas provavelmente se originaram a partir de duplicação. Com uma cópia realizando as funções originais do gene, é normal em qualquer organismo que a outra possa evoluir mais livremente para exercer diferentes atividades.

No caso das serpentes da família da jararaca, essas cópias devem ter sofrido alguma pressão seletiva para gerar duas famílias de toxinas que respondem pela maior parte da ação do veneno, a metaloproteinase conhecida pela sigla SVMP e a fosfolipase A2 (PLA2). Até então, acreditava-se que a maioria dos genes produtores de peçonha nas jararacas tinha se originado assim. Não foi possível determinar a origem de apenas uma das 12 famílias de genes que codificam toxinas na serpente.

“Apenas nessas duas famílias de genes produtores de toxinas conseguimos demonstrar que ainda existem genes ‘ancestrais’ não tóxicos, ainda presentes no código genético, logo ao lado das toxinas. Para as outras, os ancestrais se perderam completamente, provavelmente se transformando em geradores de toxinas”, afirma Vincent Louis Viala, coautor do estudo e ex-bolsista de pós-doutorado da FAPESP

Esforço de pesquisa

O grupo do Butantan tenta realizar o sequenciamento do genoma da jararaca desde 2013. A serpente é responsável por grande parte dos acidentes ofídicos no Brasil e, também por isso, é uma das mais estudadas. No entanto, os cientistas ainda não dispunham de informações mais fundamentais da origem do veneno, que o sequenciamento genético agora trouxe.

Mais do que conhecer os genes existentes em um organismo, descrever um genoma completo se trata de montá-lo na sequência correta. Essa é uma das partes mais complexas do trabalho, uma vez que o sequenciamento gera uma grande quantidade de informações, que precisam depois ser processadas por meio de ferramentas de computação.

Apenas nos últimos anos, após combinar diversos métodos, o grupo conseguiu obter uma montagem satisfatória do genoma, com a colaboração de pesquisadores da Ohio State University, nos Estados Unidos. O genoma agora está disponível on-line para quem quiser estudá-lo.

Outras respostas importantes foram obtidas a partir do trabalho. Em 2009, uma análise realizada por pesquisadores japoneses de alguns genes de veneno da Protobothrops flavoviridis, serpente peçonhenta da mesma família da jararaca (Viperidae), havia mostrado que o gene que produzia a toxina VEGF-F, também presente na cobra brasileira, era provavelmente resultante de uma duplicação do gene VEGF-A. O grupo brasileiro mostrou que é mais provável que ele tenha se originado de outra família de genes, conhecida na literatura científica como “PGF-like”.

O grupo reuniu ainda mais evidências de que os peptídeos potenciadores da bradicinina (BPP), que são a base do medicamento para hipertensão arterial captopril, provavelmente têm origem no gene CNP, produtor dos chamados peptídeos natriuréticos tipo-C, presente em outros vertebrados, inclusive em humanos.

“O trabalho ilustra a necessidade de se identificar o contexto no qual os genes estão inseridos para o correto entendimento de sua origem e evolução”, diz Azevedo.

Os pesquisadores agora trabalham na obtenção de versões mais refinadas do genoma da jararaca, assim como de outras famílias de serpentes produtoras de veneno. Com isso, esperam encontrar novas moléculas de veneno e relacioná-las com proteínas de relevância na fisiologia de outros organismos.

A pesquisa também foi financiada por meio de um Projeto Temático conduzido no âmbito do Programa BIOTA-FAPESP e de um Auxílio Regular, ambos concedidos a Azevedo.

O artigo Tracking the recruitment and evolution of snake toxins using the evolutionary context provided by the Bothrops jararaca genome pode ser lido em: www.pnas.org/content/118/20/e2015159118.

 

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.