Agência FAPESP – O Instituto Butantan solicitou à Anvisa autorização para iniciar os testes clínicos com uma nova vacina contra a COVID-19, a Butanvac. O anúncio foi feito no dia 26 de março, em cerimônia que contou com a presença do governador João Doria.
O desenvolvimento da Butanvac teve início em 27 de março de 2020, 15 dias depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter declarado a pandemia do novo coronavírus. Um ano depois, o Butantan já está pronto para dar início aos testes clínicos, de acordo com o diretor do Instituto, Dimas Covas.
A tecnologia de produção da Butanvac utiliza a estrutura básica do vírus de uma infecção que afeta aves, conhecida como doença de Newcastle, para expressar a proteína S (spike) do SARS-CoV-2. Esse vírus, modificado no Instituto Mount Sinai, em Nova York, é cultivado em ovos de galinha e depois usado na produção da vacina. Os resultados da fase pré-clínica, confirmado por laboratório da Índia, segundo Covas, permitiram avançar para a fase de testes em humanos.
O Instituto já tem longa experiência com essa tecnologia, pois a Butanvac utilizará a mesma plataforma em que são produzidas as 85 milhões de doses da vacina contra a gripe entregues anualmente ao Programa Nacional de Imunização (PNI). “A tecnologia é a mesma da vacina da gripe”, sublinhou Dimas Covas.
O pedido de autorização à Anvisa refere-se às fases 1 e 2 dos ensaios clínicos, quando serão avaliadas segurança do imunizante e sua capacidade de promover a resposta imune em 1,8 mil indivíduos com mais de 18 anos, que ainda não tenham sido vacinados. Além do Brasil, o imunizante será testado também pelo Instituto de Vacinas e Biologia Médica do Vietnam e pela Organização Farmacêutica Governamental, da Tailândia.
Em uma eventual fase 3, a Butanvac terá sua eficácia contra a COVID-19 testada em 9 mil pessoas. O Butantan indicou que estará pronto para produzir 40 milhões de doses em 2021, já a partir do mês de maio.
Ao final do anúncio, o governador disse: “Quero fazer um agradecimento à FAPESP. Ela apoia 50 projetos aqui no Butantan. A FAPESP teve todos os seus recursos de investimentos mantidos pelo governo do Estado ao longo dos anos de 2020 e 2021, não obstante a pandemia, porque São Paulo acredita na ciência, aposta na ciência, confia na ciência e sabe que a ciência ajuda a salvar vidas e proteger vidas, e a garantir também um futuro melhor para o nosso país”.
“O Instituto Butantã é um grande patrimônio da ciência e tecnologia paulista, que presta serviços ao Brasil há 120 anos. Mais uma vez, demonstra o acerto de investir em ciência em benefício da população”, declarou o presidente da FAPESP, Marco Antonio Zago. “Quero cumprimentar o Instituto e os seus pesquisadores, e reafirmar que a FAPESP tem orgulho de contribuir para esse sucesso”.
Uma parceria de 29 anos
A FAPESP apoia desenvolvimento de soros e vacinas do Instituto Butantan há décadas. Já foram concedidos recursos para um total de 2.360 auxílios e bolsas, entre eles, os mais de 50 projetos em andamento mencionados pelo governador. O primeiro projeto apoiado nesta temática, em 1992, foi um estudo sobre a expressão de proteínas do vírus da poliomielite em vacina recombinante contra a doença.
A Fundação também contribuiu para que o Instituto Butantan desenvolvesse vacinas recombinantes contra a hepatite B (1994), contra a meningite meningocócica B e C (1994) e tecnologias para os imunizantes contra o tétano e raiva (1996) e BCG recombinante (1997) e surfactantes pulmonares (1998).
Mais recentemente, a FAPESP apoiou o desenvolvimento de uma vacina contra a dengue (2008), testada em 17 mil voluntários em centros de saúde de 13 cidades do país (2017), que resultou num acordo de colaboração tecnológica entre o Butantan e a Merck Sharp e Dohme.
Neste período, a contribuição da FAPESP se estende à modernização da infraestrutura de pesquisa do Butantan, financiando, por exemplo, a ampliação de laboratórios de farmacologia, a implantação do setor de citometria, a reestruturação do laboratório de genética, entre outros.
Atualmente, a Fundação financia os testes iniciais de uma vacina acelular contra a COVID-19, que utiliza técnicas de biotecnologia, além de apoiar a fase 3 dos testes clínicos da vacina CoronaVac – que utiliza tecnologia de vírus inativado –, desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac, o principal imunizante contra o SARS-CoV-2 distribuído para todo o Brasil pelo Programa Nacional de Imunização.
Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.