Estado de São Paulo pode ganhar dois distritos de inovação
A Coordenação da BVS Rede de Informação e Conhecimento – BVS RIC, com o apoio da CCTIES/SES-SP e da Bireme/OPAS/OMS, promoveu uma reunião em 26 de fevereiro no auditório do Centro de Vigilância Sanitária, visando apresentar um dos novos produtos que serão disponibilizados em breve por meio da BVS RIC.
Trata-se de um Estudo Infométrico da produção técnico-científica da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo – SES/SP, que tem como finalidade medir quantitativamente as atividades de informação científica e técnica, utilizando métodos matemáticos e estatísticos. As informações geradas com este estudo permitem promover a sistematização da produção técnico-científica no âmbito da SES/SP por meio de um Portal de Infometria que será disponibilizado na BVS RIC. As análises realizadas até o momento referem-se à produção científica publicada e indexada nas
bases de dados LILACS (Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde), Medline e Web of Science. Está em desenvolvimento também para este portal, uma análise específica da produção científica não convencional (que inclui manuais, monografias, documentos técnicos, teses, entre outros). Este tipo de publicação constitui grande parte da produção científica relevante no âmbito da SES/SP.

Foram convidados para esta reunião Coordenadores de Saúde, Diretores e Bibliotecários das instituições cooperantes da BVS RIC, visando apresentar o conteúdo desenvolvido até o momento e promover a oportunidade de que cada instituição possa avaliar e sugerir demandas específicas de acordo com suas especificidades, para integrar este Portal.

Este Portal, juntamente com outros novos produtos da BVS RIC será lançado em breve, em data a ser divulgada, e ficará disponível para acesso a todos que tiverem interesse. Os projetos desenvolvidos pela SES/SP por meio da CCTIES, em parceria com a Bireme/OPAS/OMS e a importante participação das instituições cooperantes, vem possibilitando, ao longo da trajetória da BVS Rede de Informação e Conhecimento, o desenvolvimento de serviços e produtos diferenciados que visam oferecer recursos e facilidades no acesso à informação científica em saúde.
André Julião | Agência FAPESP – O ano mal começou e novas mortes por febre amarela foram confirmadas no Estado de São Paulo. Os casos da doença vêm na esteira da epidemia que chegou em 2016, surpreendendo as autoridades sanitárias com casos em regiões onde nem sequer havia recomendação de vacinação.
O trabalho das equipes da Secretaria de Estado da Saúde (SES-SP), principalmente do Centro de Vigilância Epidemiológica Prof. Alexandre Vranjac (CVE) e do Centro de Controle de Doenças (CCD), durante a epidemia e a história da doença são o tema do livro O Combate à Febre Amarela no Estado de São Paulo: história, desafios e inovações, do jornalista Carlos Henrique Fioravanti.
A obra retrata as inovações surgidas da epidemia, que obrigou os profissionais a repensar a forma de controlar a dispersão do vírus e o tratamento dos pacientes graves.
“A epidemia trouxe uma nova perspectiva na virologia e na forma de tratar a doença”, disse Regiane de Paula, diretora do CVE. Uma delas foi o uso de georreferenciamento, marcando a localização e a data de morte dos macacos, para prever a direção e a velocidade que o vírus se espalhava pelo Estado, onde entrou ainda em 2016 em sua forma silvestre. A forma urbana não existe no Brasil desde 1942.
Diferentemente do protocolo até então, em que a vacinação só começava depois dos primeiros casos em humanos, a população começou a ser vacinada ainda quando os primeiros macacos tiveram a morte pelo vírus confirmada.
“Vimos que o vírus se movia até três quilômetros por dia e estava chegando a uma área bastante populosa, que é a Grande São Paulo, com 12 milhões de pessoas. Então começamos a fazer campanhas de vacinação onde prevíamos que ele fosse chegar”, disse De Paula.
“Se fôssemos esperar aparecer casos em pessoas para começar a vacinar, haveria muito mais mortes”, disse Marcos Boulos, coordenador de Controle de Doenças da SES-SP e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Quando o vírus chegou ao distrito de Anhanguera, 100% da população estava vacinada. Tanto que houve mortes de macacos, mas nenhuma de humanos. Em Mairiporã, 85% da população foi vacinada. Mesmo assim, um grande número de casos e mortes acometeu o município, que chegou a decretar estado de calamidade pública.
“Não conseguimos vacinar todos em Mairiporã porque é uma área de ocupação das matas, com difícil acesso. Há lugares bastante isolados, como o bairro Barro Preto, em que a população quase não sai e onde as equipes não conseguem chegar. Por isso houve ainda tantos casos”, disse Boulos à Agência FAPESP.
Além da nova forma de evitar que o vírus se espalhasse, o livro mostra como as equipes se prepararam para lidar com os doentes graves. Embora o transplante de fígado seja o procedimento padrão para falência hepática, foi definido que os pacientes com febre amarela deveriam passar na frente da fila de transplante, dado o risco de morte.
Durante a epidemia foi realizado o primeiro transplante de fígado em um paciente de febre amarela no mundo.
O trabalho foi reconhecido pela Organização Panamericana de Saúde (Opas), que colaborou com recursos durante a epidemia e patrocinou a produção do livro. Boulos foi recentemente ao Senegal a convite da Opas para apresentar os dados obtidos no Brasil e contribuir para a compreensão do vírus na África.
Fioravanti teve contato com o assunto quando produziu duas reportagens para a revista Pesquisa FAPESP. Uma delas foi a capa da edição de janeiro de 2018 e a outra foi publicada no mês seguinte.
“A nossa memória é muito curta. No trabalho com saúde pública, o tempo todo estamos correndo atrás do prejuízo, para fazer o máximo que podemos pela população. Um registro como esse é fundamental, porque as doenças não acabam, elas continuam por aí”, disse Boulos.
Uma prova é que o vírus segue matando, como lembra Regiane de Paula. “Ainda tem muita gente para ser vacinada. Nessa época do ano, com mais chuva e calor, o mosquito viaja mais rápido. Vencemos a batalha, mas não vencemos a guerra”, disse.
O livro tem projeto gráfico de Hélio de Almeida e Thereza Almeida e está disponível gratuitamente para download em http://www.saude.sp.gov.br/resources/ccd/noticias/cve/febre_amarela_miolo_web.pdf.
Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.
Claudia Izique | Agência FAPESP – As embaixadas do Brasil em Washington e Londres querem identificar os brasileiros qualificados, que atuem em áreas ligadas à ciência, tecnologia e inovação (CT&I) em universidades, instituições de pesquisa e em empresas, públicas ou privadas nos Estados Unidos e no Reino Unido.
A ideia é articulá-los em rede e também conectá-los com suas contrapartes em território brasileiro, de forma a facilitar a circulação de ideias, de conhecimento e de experiências e ampliar as oportunidades de intercâmbios científicos e tecnológicos, além de negócios entre os países.
Em entrevista à Agência FAPESP em janeiro de 2018, o embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral, sublinhou que a intenção não é disciplinar a cooperação entre brasileiros no Brasil e no exterior, que, como ele disse, já é grande, mas compartilhar a experiência dos brasileiros que estão nos Estados Unidos.
A embaixada brasileira em Washington realizou dois encontros da diáspora brasileira em CT&I, o primeiro em dezembro de 2017 e o segundo em dezembro de 2018. A embaixada brasileira em Londres fará o primeiro encontro no dia 14 de fevereiro, em Londres, no Workshop: Brazilian Diaspora of Science, Technology and Innovation in the UK. O evento ocorrerá em seguida à FAPESP Week London, que será realizada nos dias 11 e 12 de fevereiro.
O mapeamento da diáspora brasileira nos Estados Unidos será realizado por pesquisadores do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (Nepp) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O acordo que possibilitará essa cooperação foi assinado pelo embaixador Sérgio Amaral e pelo reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, em 7 de dezembro de 2018.
“O projeto tem por objetivo último fazer um diagnóstico e propor políticas para compreender como a CT&I no Brasil pode obter ganhos com a circulação e fixação de brasileiros de alta qualificação e com atuação na área de CT&I nos Estados Unidos”, disse Ana Maria Carneiro, coordenadora do projeto no Nepp.
O desafio, segundo Carneiro, está em produzir subsídios para o “reforço e elaboração de políticas públicas acerca da diáspora brasileira nos Estados Unidos que possam ser mobilizadas pelo Ministério das Relações Exteriores, em específico, pela Embaixada Brasileira em Washington, a fim de potencializar oportunidades e ganhos para o Brasil”, disse.
Esse diagnóstico inclui estimar o número de brasileiros com atuação na área de CT&I, identificar as áreas geográficas e de conhecimento, instituições de vínculo, conexões já existentes, interação com agências de fomento, entre outros.
A diáspora brasileira nos Estados Unidos soma cerca de 450 mil pessoas, de acordo com estatísticas do American Community Survey. “Outra base de dados, da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], estima que 75 mil têm ensino superior. Os brasileiros com atividades ligadas à CT&I são um subconjunto dos que têm essa qualificação”, disse Carneiro.
Não será possível identificar todos os brasileiros com esse perfil, ela ressalva. Vamos iniciar pela lista de nomes relevantes já identificados pela embaixada em Washington, para os quais enviaremos questionários. A expectativa é que o levantamento se amplie pelo efeito ‘bola de neve’”, disse, levando em conta o grande número de brasileiros que, desde 2010, já se articulam em redes nos Estados Unidos (leia mais sobre as redes de brasileiros nos Estados Unidos em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2019/01/10/conexoes-de-longa-distancia/)
A coordenadora do projeto do Nepp sobre a rede de diáspora participará do encontro em Londres que reunirá especialistas em circulação internacional de talentos para avaliar maneiras de potencializar os benefícios de o Brasil contar com um número grande de brasileiros em instituições no país.
Pesquisadores brasileiros no Reino Unido
“O Reino Unido é um dos principais destinos dos bolsistas do governo brasileiro”, disse Carlota Azevedo Bezerra Vitor Ramos, chefe dos Setores de Cooperação Educacional e Cooperação Científica da embaixada brasileira em Londres.
A embaixada estima que vivem no Reino Unido cerca de 500 brasileiros estudantes de doutorado ou pesquisadores visitantes com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação (MEC); Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e às Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) dos Estados, incluindo a FAPESP.
“Não temos, atualmente, estimativa do número total de brasileiros presentes no Reino Unido na área de CT&I. É importante sublinhar que muitos não se registram no Consulado brasileiro, visto que têm passaporte europeu. O esforço que estamos levando adiante suprirá essa lacuna de informação”, disse Ramos.
Há muita convergência entre as áreas de concentração de acadêmicos brasileiros no Reino Unido e as áreas em que o Brasil se destaca na produção científica mundial.
“Por exemplo, sabemos que muitos cientistas e pesquisadores brasileiros trabalham na área das ciências biológicas, em convênio com centros de pesquisa e desenvolvimento em locais como GSK, Kew Gardens e Rothamsted Research. O Imperial College London, especializado na área de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemática), fundou um Brazil Forum para manter um registro e organizar a comunidade de 164 brasileiros atualmente ligados ou egressos, assim como não brasileiros que colaboram frequentemente com brasileiros”, disse Ramos.
Ela destaca que um parceiro importante da embaixada brasileira em Londres nessa iniciativa é a Associação de Brasileiros Estudantes de Pós-Graduação e Pesquisadores (Abep-UK), que há quase 40 anos agrega estudantes de pós-graduação e pesquisadores brasileiros residentes no Reino Unido.
“Entretanto, se levarmos em conta o universo de estudantes e pesquisadores brasileiros atualmente no país, a verdade é que apenas uma parte se afilia à Abep. A maior parte dos estudantes e pesquisadores vem ao Reino Unido e fica concentrada no círculo de contatos da sua instituição ou universidade, sobretudo dos departamentos em que estudam”, disse Ramos.
“Muitas vezes os brasileiros dentro de uma mesma instituição não se conhecem. O resultado é que temos excelentes acadêmicos brasileiros presentes no Reino Unido, nas mais diversas áreas do conhecimento, mas dispersos e relativamente pouco articulados entre si. É isso que queremos mudar”, disse.
A embaixada tem contato estreito com a comunidade acadêmica brasileira no Reino Unido, sobretudo por meio dos seus Setores de Cooperação Educacional e Cooperação Científica. “Além de prestar apoio às consultas de pesquisadores e estudantes, também buscamos nos articular com as instituições que recebem nossos acadêmicos, de maneira a compreender suas necessidades, demandas e perfil”, disse.
Mantém também registro de vários cientistas brasileiros residentes em diferentes cidades do Reino Unido que auxiliam como pontos focais para engajamento da comunidade, que são chamados de “champions”. “Não raramente, temos a grata surpresa de encontrar pelo menos um cientista brasileiro nas visitas que frequentemente fazemos a centros de pesquisas e universidades daqui”, disse Ramos.
“Por meio da organização do encontro da diáspora científica brasileira no Reino Unido, buscaremos engajar a comunidade científica e acadêmica brasileira de forma articulada, que permita uma interlocução regular e dinâmica entre esses atores no longo prazo. Com base no mapeamento das redes e na criação da base de dados com os membros da diáspora, queremos promover oficinas e encontros periódicos na Embaixada, voltados aos interesses e necessidades da comunidade”, disse a chefe dos Setores de Cooperação Educacional e Cooperação Científica da embaixada brasileira em Londres.
“Temos muito interesse em levar adiante uma cooperação de longo prazo com a FAPESP e com o Nepp da Unicamp, de maneira a utilizar esse conhecimento em prol das políticas públicas brasileiras de CT&I e avançar na interlocução da diáspora com suas contrapartes no Brasil”, disse.
“Ao conhecer melhor o perfil dos acadêmicos presentes no país, teremos melhores condições de compreender suas demandas e de que forma a embaixada pode ajudá-los a promover sua pesquisa. Consideramos importante, também, que esses atores usem a plataforma da diáspora para trocar informações entre si, facilitar trabalhos conjuntos e formar redes de apoio, sobretudo no acolhimento de estudantes e pesquisadores recém-chegados ao país”, disse Ramos.
Mais informações sobre o Workshop: Brazilian Diaspora of Science, Technology and Innovation in the UK: www.fapesp.br/eventos/diaspora-uk
Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.