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Comunicação científica sem barreiras

Marcelos Cipis

Cerca de 2,3 milhões de trabalhos científicos de todas as áreas do conhecimento foram publicados apenas no ano de 2016 em revistas de boa reputação classificadas na base de dados Scopus. O acesso a tamanho volume de informação, fundamental para que pesquisadores acompanhem descobertas e novidades em suas áreas e consigam colaborar para o avanço do conhecimento, poderá ser ampliado e facilitado, caso se propague um plano lançado em setembro por agências de apoio à pesquisa de 14 países, na maioria europeus. A lógica do chamado Plan S é simples: se uma pesquisa é financiada de alguma forma com dinheiro público – o que acontece com a maioria esmagadora das pesquisas em ciência básica –, seu resultado deverá ser divulgado em uma revista científica ou em uma plataforma na internet às quais qualquer pessoa tenha acesso sem pagar nada por isso. Assim, crescem as chances de levar, sem restrição, o conhecimento inovador para a sociedade, que, afinal, patrocinou seu desenvolvimento.

A iniciativa vai entrar em vigor em 2020 e é liderada pela Comissão Europeia, que a adotará em seu novo programa multilateral de financiamento à pesquisa, o Horizon Europe, com orçamento superior a € 100 bilhões, e por um grupo de agências de 14 países, entre elas instituições filantrópicas como o Wellcome Trust, no Reino Unido, e a Fundação Bill e Melinda Gates, nos Estados Unidos. As instituições proponentes financiam 3,5% da produção científica mundial, participação modesta para gerar uma transformação radical. Por isso, buscam parceiros para dar abrangência mundial ao plano. Já conseguiram um aliado de peso: a Academia de Ciências da China. “Desde o anúncio do plano, vários financiadores e nações expressaram interesse e apoio a ele, reconhecendo a necessidade de estabelecer o acesso aberto imediato. Estamos em um momento de construção global”, disse à Pesquisa FAPESP um dos mentores da iniciativa, o holandês Robert-Jan Smits, conselheiro sênior em Acesso Aberto da Comissão Europeia.

É fácil defender que o conhecimento gerado com a ajuda de dinheiro público seja rapidamente compartilhado. Mas levar essa ideia à prática exige uma engenharia complexa para não enfraquecer o papel crucial desempenhado pelas revistas no desenvolvimento científico. Cada paper precisa ser analisado por editores e pesquisadores que conhecem o tema abordado, na chamada revisão por pares. Eles propõem aperfeiçoamentos e recomendam a publicação (ou não) de um trabalho, no que é considerado por cientistas, instituições e agências como um crivo da qualidade dos resultados obtidos. A questão é que avaliar um trabalho e publicá-lo, em papel ou on-line, custa dinheiro. Um dos meios consagrados para custear esse processo é a venda de assinaturas de revistas ou a cobrança pelo acesso a artigos na internet, em um modelo comercial que moldou boa parte da comunicação científica no planeta e criou conglomerados de mídia.

Nos últimos anos, a produção científica mundial cresceu exponencialmente e o advento da internet tornou palpável a possibilidade de agilizar e remover barreiras na divulgação de trabalhos de pesquisadores. Surgiram as revistas de acesso aberto, cujo conteúdo é franqueado aos leitores na web, que se financiam com taxas cobradas dos autores e eventualmente recebem subsídios de agências ou sociedades científicas.

As editoras tradicionais vêm reagindo a essa concorrência e à pressão por divulgar livremente seu conteúdo. Algumas criaram seus próprios títulos de acesso aberto, outras passaram a permitir que os autores divulgassem cópias de seus artigos na internet após um período de acesso fechado, de seis meses a um ano. Mas parte significativa apostou em um sistema híbrido, em que os artigos ficam disponíveis para assinantes, mas o autor pode pagar uma taxa extra para que seu trabalho seja divulgado sem restrições em sites de periódicos. O número de revistas híbridas aumentou de 2 mil, em 2009, para quase 10 mil, em 2016, segundo um estudo do finlandês Bo-Christer Björk, da Escola de Economia Hanken, em Helsinque, na Finlândia. Boa parte dessas publicações pertencem a grandes editoras, como Elsevier, Wiley e Springer-Nature. O Plan S busca mudar esse cenário. Quer que os pesquisadores recorram a periódicos de acesso aberto e admite até mesmo incentivar a criação de novas revistas desse tipo em disciplinas nas quais elas sejam escassas – a área de química seria um exemplo. Também haverá critérios para definir que revistas e plataformas de acesso aberto estarão aptas a publicar artigos. O objetivo é afastar os pesquisadores das revistas predatórias, periódicos de acesso aberto mais preocupados em cobrar taxas do que em fazer uma rigorosa revisão por pares.

Revistas híbridas não poderiam ser utilizadas, pois, para os artífices do Plan S, a cobrança simultânea da assinatura e da taxa para divulgação na web é abusiva. As editoras discordam. “Haverá implicações profundas relacionadas à economia da ciência e à dinâmica de disseminação da pesquisa”, disse à Pesquisa FAPESP em dezembro a editora-chefe da revista Nature, Magdalena Skipper (ver Pesquisa FAPESP nº 274). “Isso não apenas significa que todos os periódicos teriam de pensar em um novo modelo de negócios, como também que todo autor que publicasse teria de pagar ou encontrar financiamento para que o seu trabalho possa ficar disponível, sem restrições.”

O PLAN S
O que é
Iniciativa lançada por agências de 14 países propõe que toda pesquisa com financiamento público seja divulgada em acesso aberto

Início
1º de janeiro de 2020

Ambição
Criar uma aliança com agências de múltiplos países, estabelecendo um sistema de acesso aberto de alcance mundial

O que está em jogo

  • Para agências e universidades
    Vão pagar as taxas de publicação em revistas de acesso aberto e seus custos devem aumentar. A barganha com as editoras dependerá da adesão de mais países ao plano
  • Para editoras e sociedades científicas
    Está em xeque o modelo de negócios baseado na cobrança de assinaturas ou taxas extras para acesso aberto. Elas afirmam que o Plan S pode inviabilizar revistas
  • Para pesquisadores
    Não poderão publicar artigos em revistas de impacto que não se adéquem ao Plan S. Mas pesquisadores de universidades e de empresas terão acesso a conteúdos científicos sem precisar pagar por isso

O Plan S tem 10 pontos. O principal deles determina que os artigos sejam publicados sem restrições de direitos autorais, sob uma licença que permita livre compartilhamento, desde que a fonte seja citada. Em novembro, foi aberto para consulta pública um guia que esmiúça detalhes de sua implementação. O documento demonstra alguma flexibilidade, ao propor que o modelo híbrido não acabe repentinamente. Será possível utilizar essas revistas em uma etapa de transição, desde que elas apresentem um plano para se adequar ao novo modelo e permitam a publicação imediata de uma cópia dos artigos em um repositório aberto. Muitas editoras de revistas de acesso restrito ou híbrido já admitem divulgar seus artigos em repositórios, embora exijam o cumprimento de um embargo. “Agora, queremos garantir o acesso instantâneo a esses conteúdos”, diz Robert-Jan Smits.

Dois pontos do plano tratam dos custos de publicação. Um deles determina que as taxas de processamento de artigos, as APCs, sejam sempre cobertas pelas agências financiadoras ou por universidades, não por pesquisadores individuais. O outro prevê que essas taxas sejam padronizadas e tenham um limite máximo. O objetivo é controlar gastos. Hoje, o valor das APCs, que cobrem os custos de revisão e publicação dos artigos, varia bastante – pode ir de US$ 1,5 mil até US$ 5 mil por paper, no caso de muitos periódicos híbridos. O limite a ser adotado ainda não foi definido, mas a discussão atual gira em torno de um valor entre US$ 1,5 mil e US$ 3 mil, a depender do número médio de citações – o fator de impacto – de cada publicação.

Marcelos Cipis

Existe o temor de que a conta fique salgada para as agências de fomento, que se responsabilizariam por pagar boa parte das APCs. Foi o que ocorreu no Reino Unido, que adotou em 2014 uma estratégia de acesso aberto envolvendo trabalhos financiados por 107 instituições ligadas aos seus Conselhos de Pesquisa (RCUK, em inglês). Um estudo publicado em 2016 pela consultoria britânica Jisc mostra que o número de APCs pagas no Reino Unido dobrou entre 2013 e 2014. Depois disso, conforme o mesmo estudo, voltou a subir, com aumento de 6% entre 2015 e 2016.

A adesão de novos países ao Plan S depende da definição dos custos. “Não vamos nos comprometer com o plano se os montantes forem muito altos”, disse à revista Science Véronique Halloin, secretária-geral dos Fundos para Pesquisa Científica (FNRS), uma agência de fomento belga. Os obstáculos seriam maiores em países pobres, que teriam dificuldade em canalizar mais dinheiro para arcar com custos de publicação. “O Plan S nasceu na Europa e não pode ser simplesmente transplantado para países em desenvolvimento”, afirmou o indiano Arul George Scaria, pesquisador do Centro para Inovação, Propriedade Intelectual e Competição da Universidade Nacional de Direito da Índia, em entrevista ao blog do jornalista britânico Richard Poynder.

Os custos, de todo modo, deverão aumentar em um primeiro momento, observa Abel Packer, coordenador da biblioteca científica virtual SciELO Brasil (Scientific Electronic Library Online). Estimativa da Sociedade Max Planck, da Alemanha, revelou que as bibliotecas acadêmicas do mundo gastam com assinaturas € 7,6 bilhões por ano (o equivalente a R$ 32 bilhões) para uso de seus alunos e pesquisadores. No Brasil, vêm crescendo os investimentos do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que garante acesso gratuito a mais de 45 mil títulos. Em 2016, o órgão gastou R$ 357 milhões com assinaturas de periódicos; em 2018, o valor foi a R$ 402 milhões. Em nota, a Capes afirma que não pretende suspendê-las. Esses custos tendem a desaparecer se o Plan S vingar, porque a produção científica ficará aberta na internet. Transitoriamente, contudo, seria necessário pagar por assinaturas e também pelas APCs dos novos artigos. Para Robert-Jan Smits, será possível poupar dinheiro gasto com assinaturas e direcioná-lo para APCs. “Bibliotecas poderiam renegociar contratos garantindo que parte da receita destinada a assinaturas seja direcionada ao acesso aberto”, sugere.

Abel Packer recomenda que o Brasil pense na criação de um fundo para pagar as taxas de processamento. Ele estima que o custo anual do país com APCs poderá variar de US$ 75 milhões a US$ 100 milhões, caso todas as revistas indexadas na base Web of Science sejam publicadas em acesso aberto com cobrança de taxas. Para fazer o cálculo, considerou um custo médio entre US$ 1,5 mil e US$ 3 mil por APC. O Brasil, porém, está bem posicionado para a adoção do Plan S. Estudo da consultoria Scimago mostrou que 82,3% das revistas científicas do país eram de acesso aberto em 2016 – a média mundial era de 13%. Isso se deve à biblioteca SciELO, programa financiado desde 1997 pela FAPESP, com apoio da Capes e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que reúne atualmente 293 periódicos de acesso aberto do Brasil disponíveis na web. Para Packer, o plano pode favorecer a procura por periódicos de acesso aberto do Brasil que tenham qualidade. “É plausível imaginar que revistas do Brasil na SciELO, presentes nas bases Web of Science e Scopus e que publiquem em inglês, começarão a receber mais artigos de autores de outros países”, diz.

O documento que detalha o Plan S pede que as editoras sejam transparentes em relação a custos e critérios empregados para definir as APCs. “Isso pode ser mais eficiente do que limitar os preços, pois estimularia a competição entre as editoras”, avalia o linguista belga Johan Rooryck, da Universidade de Leiden, na Holanda, e diretor da Fair Open Access Alliance (Foaa), organização que auxilia revistas a introduzirem o modelo de acesso aberto. As editoras rejeitam essa possibilidade. Tom Heller, vice-presidente de Comunicações Globais da Elsevier, avisa que nenhuma empresa disponibiliza dados sobre os custos de seus produtos. “São informações privadas e confidenciais”, diz Heller, enfatizando que a Elsevier divulga apenas relatórios anuais com despesas e receitas operacionais.

Uma petição na internet, com mais de 1.600 assinaturas incluindo a de ganhadores de prêmios Nobel, classifica o Plan S como “um risco para a ciência”. “Ele pode restringir o acesso a mais de 80% dos periódicos”, diz a bioquímica Lynn Kamerlin, da Universidade de Uppsala, na Suécia, e coordenadora da petição. Ela se baseia em um estudo de 2017 da Universities UK, que reúne instituições de ensino superior e pesquisa britânicas, segundo o qual a proporção de revistas híbridas saltou de 36,2%, em 2012, para 45%, em 2016 – enquanto a de periódicos fechados declinou de 49,2% para 37,7% no período (ver gráfico). Para Kamerlin, desconsidera-se o fato de que muitas publicações dependem de assinaturas e que a mudança pode inviabilizá-las. Seria o caso das revistas produzidas por associações e sociedades científicas, como a Physical Review Letters, publicada pela Sociedade Americana de Física. Em um comunicado, a instituição explicou que suas despesas com edição e revisão por pares são majoritariamente cobertas por assinaturas. Dos 12 periódicos que publica, apenas três são totalmente abertos – o restante segue o modelo híbrido.

Marcel Swart A bioquímica sueca Lynn Kamerlin: “O plano representa um risco para a ciência”Marcel Swart

A Sociedade de Genética dos Estados Unidos (GSA) prevê que a adoção do Plan S possa reduzir em um terço sua renda. Dois periódicos são responsáveis por 65% de sua receita total. Esses recursos são utilizados para financiar iniciativas que não geram rendimentos, como um programa de auxílio a pesquisadores em início de carreira. Reportagem recente da revista Science mostrou que as sociedades científicas ficam em desvantagem em relação às editoras comerciais. “A maior delas, a Elsevier, publica mais de 2.500 periódicos, enquanto as sociedades publicam apenas algumas dúzias”, destaca a reportagem. Bill Moran, editor da Science, sugeriu que periódicos de qualidade publicados por sociedades científicas sejam isentos do Plan S, “por suas circunstâncias e papéis incomuns na comunicação acadêmica”. Publicada pela Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), a Science é uma das revistas de maior prestígio no mundo. “Não seríamos economicamente sustentáveis se as taxas de publicação pagas por autores tivessem que cobrir todos os nossos custos”, disse Moran.

De acordo com Kamerlin, os efeitos do Plan S talvez sejam menores para os mega-journals – revistas que têm bons resultados financeiros com a cobrança de APCs ao publicar grande volume de papers em acesso aberto na internet, como Nature Communications e Scientific Reports. “Há um bom número de revistas financeiramente estáveis com APCs razoáveis”, diz o geneticista Michael Eisen, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, e um dos fundadores da Public Library of Science (PLOS), editora de uma prestigiosa coleção de revistas de acesso aberto – a mais importante delas, a PLOS ONE, cobra APC de US$ 1.595. “Sabemos que o Plan S terá impacto sobre editoras que seguem o modelo de assinatura, mas queremos que os trabalhos que financiamos, como os que tratam de problemas como aquecimento global e avanço de epidemias, sejam disponibilizados livremente”, diz Robert Kiley, diretor de Pesquisa Aberta da Wellcome Trust. A agência britânica dispõe de um orçamento de € 1,14 bilhão, dos quais € 9 milhões destinam-se a taxas de publicação em acesso aberto.

Enquanto governos, agências e editoras discutem os custos do Plan S, a comunidade científica busca avaliar as possíveis repercussões da iniciativa. Em várias áreas, a preocupação relaciona-se ao direito de escolher revistas altamente citadas para publicar seus trabalhos. “Os periódicos totalmente abertos nas ciências humanas são novos e a maioria ainda não conquistou grande reputação”, disse a antropóloga Birgit Meyer, membro da Academia Real de Artes e Ciências da Holanda, em um evento recente. Professora da Universidade de Utrecht, Meyer deu uma ideia da tensão que a iniciativa está gerando entre alunos de doutorado e orientadores. “Devo indicar, como sempre fiz, que eles publiquem em revistas de impacto, mesmo que sejam incompatíveis com o Plan S?”

Muitos cientistas querem manter a liberdade de publicar em títulos como Nature, Science, Cell e The Lancet, que seguem o modelo híbrido. “Quando o pesquisador tem nas mãos um resultado impactante, optará pela revista de maior prestígio possível, ainda que tenha de pagar uma alta taxa para publicar em acesso aberto”, afirma o médico José Eduardo Krieger, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). “Publicar em grandes periódicos não apenas satisfaz o ego do pesquisador, mas também gera reconhecimento entre seus pares e é um fator de progressão na carreira”, completa. “Procuro submeter trabalhos a publicações tradicionais, como o American Journal of Physiology, que é híbrida e chega a cobrar até US$ 3 mil para disponibilizar o artigo de forma aberta”, explica. Para Krieger, o Plan S pode dar impulso para que parâmetros de avaliação, como o fator de impacto, sejam substituídos por métricas alternativas.

O neurocientista Stevens Rehen, do Instituto D’Or e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), observa que muitos grupos da área da saúde, especialmente aqueles que estudam doenças epidêmicas, já vêm dando importância à divulgação de dados e resultados de forma rápida e aberta, encurtando o caminho entre a informação científica e o público. Ele lembra que revistas de maior impacto podem levar até dois anos para publicar um paper, enquanto bons periódicos de acesso aberto, embora com fator de impacto mais baixo, divulgam artigos com agilidade. “Quase sempre opto por publicar em revistas de acesso aberto, como Scientific Reports, PLOS e PeerJ, que são compatíveis com o Plan S.” Rehen também é um entusiasta dos preprints – trabalhos divulgados para discussão antes de passarem pela revisão por pares (ver Pesquisa FAPESP nº 254). “O mais importante é a validação das descobertas pela comunidade científica, e não somente a aprovação por um editor que, na maioria das vezes, não é especialista no tema”, diz Rehen.

O Plan S encoraja o uso de preprints, que está consolidado em áreas como física e matemática, mas considera que o modelo não substitui o sistema tradicional. Para Marcos Pimenta, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e presidente da Sociedade Brasileira de Física (SBF), as diretrizes do plano não devem influir na popularidade dos preprints, embora preveja impacto em um momento posterior, em que os manuscritos são submetidos à avaliação de um periódico e publicados. Segundo ele, muitos físicos lançam trabalhos em forma de preprint em um repositório de prestígio na área, o arXiv, e mais tarde divulgam a versão final em revistas fechadas que cobram taxas menores que as de periódicos de acesso aberto. Recentemente, para publicar um artigo em acesso aberto na Nature Communications, Pimenta desembolsou cerca de US$ 5 mil (R$ 18 mil), pagos com recursos de pesquisa que recebe da Capes.

Nikolay Doychinov/EU2018BG Mentor do Plan S, o holandês Robert-Jan Smits, da Comissão Europeia, quer que o plano ganhe escala globalNikolay Doychinov/EU2018BG

No Brasil, as agências de fomento cobrem os custos com taxas de publicação, argumenta Alicia Kowaltowski, professora do Instituto de Química da USP. “O pagamento não é feito com recursos suplementares, mas sim com parte do financiamento das pesquisas”, diz Kowaltowski, autora de uma carta com críticas ao Plan S publicado na revista Science. “Em muitos casos, os pesquisadores precisam escolher entre publicar em acesso aberto ou comprar material de laboratório. O Plan S pode comprometer projetos científicos com orçamentos restritos”, ressalta. Para ela, a meta de estabelecer um teto para as APCs não é factível. “Dificilmente as grandes editoras reduzirão suas taxas no prazo de menos de um ano. Muitas revistas continuarão cobrando preços exorbitantes”, avalia Kowaltowski, editora da revista de acesso aberto Redox Biology, publicada pela Elsevier.

Já na área de ciências da computação, o Plan S não deve ter grande repercussão, avalia Lisandro Zambenedetti Granville, presidente da Sociedade Brasileira de Computação (SBC). “Costuma-se publicar em anais de congressos e conferências. Eles cobram uma taxa de inscrição para arcar com gastos dos eventos que também financia as publicações”, explica Granville. “Ter um artigo aceito habilita o autor a apresentar seu trabalho no congresso, diante de uma plateia que poderá dar feedbacks em tempo real”, observa.

O plano apresenta um desafio à forma como a Capes avalia os programas de pós-graduação no país. O órgão criou o sistema Qualis de classificação de periódicos para monitorar a produção de professores e alunos de mestrado e doutorado. O Qualis leva em conta indicadores como o Journal Impact Factor (JIF), que avalia o número médio de citações dos artigos de uma revista, e é comum que títulos de acesso aberto sejam mal avaliados e desestimulados. O Plan S apoia a declaração DORA (San Francisco Declaration on Research Assessment), que propôs em 2012 eliminar o uso do fator de impacto de revistas como indicador da qualidade de artigos. “As métricas de avaliação têm influenciado o comportamento de pesquisadores, sobretudo aqueles em início de carreira, para procurar periódicos com alto fator de impacto, que na maioria dos casos são híbridos”, diz Smits, da Comissão Europeia. “É preciso haver uma mudança cultural para um sistema que reconheça a qualidade do trabalho e não em qual veículo ele é divulgado.” A proposta de implementação do Plan S ficou aberta para consulta até o início de fevereiro. As instituições responsáveis pelo plano farão uma revisão das regras, podendo acatar ou refutar sugestões, e devem apresentar uma nova versão durante a primavera no hemisfério Norte.

Colin/Wikimedia Commons The Maughan Library, a principal biblioteca de pesquisa universitária do King’s College London, na InglaterraColin/Wikimedia Commons

Repositório das universidades estaduais paulistas

Em 2010, o Conselho Superior da FAPESP aprovou uma política estabelecendo que os artigos resultantes de pesquisas financiadas pela Fundação, e publicados em periódicos internacionais indexados em bases como o Web of Science, devem ser arquivados em repositórios de acesso aberto – vencido o período de embargo estabelecido pelas revistas científicas, em geral de seis meses pelo menos. A iniciativa estimulou a criação, em 2013, do Repositório da Produção Científica do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp), abastecido com artigos, teses, dissertações e outros trabalhos científicos publicados por pesquisadores das universidades de São Paulo (USP), Estadual de Campinas (Unicamp) e Estadual Paulista (Unesp). O repositório reúne acervos depositados nas três universidades, que somam mais de 1,2 milhões de registros e podem ser acessados por meio de uma ferramenta de busca comum no site www.cruesp.sibi.usp.br.

Republicar

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FAPESP lança primeira chamada de propostas do SPRINT em 2019

Agência FAPESP – A FAPESP lançou a primeira chamada de propostas de 2019 da modalidade SPRINT – São Paulo Researchers in International Collaboration, com recorde de instituições participantes. São 16 instituições, de 11 países.

A chamada visa promover o engajamento de pesquisadores vinculados a instituições de ensino superior e pesquisa no Estado de São Paulo com pesquisadores parceiros no exterior, para avançarem qualitativamente em projetos em andamento e trabalharem cooperativamente visando à elaboração de projetos conjuntos de médio e longo prazo.

A nova chamada estabelece condições para a submissão de propostas de mobilidade entre pesquisadores do Estado de São Paulo e de 16 instituições de ensino e pesquisa no exterior, com as quais a FAPESP mantém acordo de cooperação:

– Consórcio CALDO e Dalhousie University, Canadá
– Cardiff University, Reino Unido
– Carleton University, Canadá
– Concytec, Peru
– Coventry University, Reino Unido
– DAAD, Alemanha
– Delft University of Technology, Holanda
– National Research Foundation (NRF), África do Sul – Texas A&M University, Estados Unidos
– Tianjin University, China
– University of California – San Diego, Estados Unidos
– University of Copenhagen, Dinamarca
– University of Leeds, Reino Unido
– University of Wollongong, Austrália
– Uppsala University, Suécia
– West Virginia University, Estados Unidos

Podem submeter propostas pesquisadores responsáveis por auxílios FAPESP vigentes nas modalidades Auxílio à Pesquisa – Regular ou Projeto Temático ou nos programas Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes, Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID), Programa de Melhoria do Ensino Público, Programa de Pesquisa em Políticas Públicas e Programa de Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE). Pesquisadores principais de Projetos Temáticos, CEPIDs e PITEs vigentes também são elegíveis para a submissão de propostas.

O envio de projetos à FAPESP deverá ser feito exclusivamente via SAGe (www.fapesp.br/sage). O prazo final para envio de propostas é dia 29 de abril de 2019.

A chamada também poderá receber propostas de pesquisadores cujos parceiros sejam vinculados a instituições com as quais a FAPESP não tem acordo vigente ou com acordo vigente, mas que não estejam participando desta edição do SPRINT.

A chamada de propostas SPRINT 1/2019 está publicada em (www.fapesp.br/sprint/chamada12019).
 

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Reunião de apresentação de novo produto da BVS Rede de Informação e Conhecimento: estudo infométrico da produção técnico-científica da SES/SP

A Coordenação da BVS Rede de Informação e Conhecimento – BVS RIC, com o apoio da CCTIES/SES-SP e da Bireme/OPAS/OMS, promoveu uma reunião em 26 de fevereiro no auditório do Centro de Vigilância Sanitária, visando apresentar um dos novos produtos que serão disponibilizados em breve por meio da BVS RIC.

Trata-se de um Estudo Infométrico da produção técnico-científica da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo – SES/SP, que tem como finalidade medir quantitativamente as atividades de informação científica e técnica, utilizando métodos matemáticos e estatísticos. As informações geradas com este estudo permitem promover a sistematização da produção técnico-científica no âmbito da SES/SP por meio de um Portal de Infometria que será disponibilizado na BVS RIC. As análises realizadas até o momento referem-se à produção científica publicada e indexada nas
bases de dados LILACS (Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde), Medline e Web of Science. Está em desenvolvimento também para este portal, uma análise específica da produção científica não convencional (que inclui manuais, monografias, documentos técnicos, teses, entre outros). Este tipo de publicação constitui grande parte da produção científica relevante no âmbito da SES/SP.

Foram convidados para esta reunião Coordenadores de Saúde, Diretores e Bibliotecários das instituições cooperantes da BVS RIC, visando apresentar o conteúdo desenvolvido até o momento e promover a oportunidade de que cada instituição possa avaliar e sugerir demandas específicas de acordo com suas especificidades, para integrar este Portal.


Este Portal, juntamente com outros novos produtos da BVS RIC será lançado em breve, em data a ser divulgada, e ficará disponível para acesso a todos que tiverem interesse. Os projetos desenvolvidos pela SES/SP por meio da CCTIES, em parceria com a Bireme/OPAS/OMS e a importante participação das instituições cooperantes, vem possibilitando, ao longo da trajetória da BVS Rede de Informação e Conhecimento, o desenvolvimento de serviços e produtos diferenciados que visam oferecer recursos e facilidades no acesso à informação científica em saúde.

Livro narra desafios do combate à febre amarela

André Julião | Agência FAPESP – O ano mal começou e novas mortes por febre amarela foram confirmadas no Estado de São Paulo. Os casos da doença vêm na esteira da epidemia que chegou em 2016, surpreendendo as autoridades sanitárias com casos em regiões onde nem sequer havia recomendação de vacinação.

O trabalho das equipes da Secretaria de Estado da Saúde (SES-SP), principalmente do Centro de Vigilância Epidemiológica Prof. Alexandre Vranjac (CVE) e do Centro de Controle de Doenças (CCD), durante a epidemia e a história da doença são o tema do livro O Combate à Febre Amarela no Estado de São Paulo: história, desafios e inovações, do jornalista Carlos Henrique Fioravanti.

A obra retrata as inovações surgidas da epidemia, que obrigou os profissionais a repensar a forma de controlar a dispersão do vírus e o tratamento dos pacientes graves.

“A epidemia trouxe uma nova perspectiva na virologia e na forma de tratar a doença”, disse Regiane de Paula, diretora do CVE. Uma delas foi o uso de georreferenciamento, marcando a localização e a data de morte dos macacos, para prever a direção e a velocidade que o vírus se espalhava pelo Estado, onde entrou ainda em 2016 em sua forma silvestre. A forma urbana não existe no Brasil desde 1942.

Diferentemente do protocolo até então, em que a vacinação só começava depois dos primeiros casos em humanos, a população começou a ser vacinada ainda quando os primeiros macacos tiveram a morte pelo vírus confirmada.

“Vimos que o vírus se movia até três quilômetros por dia e estava chegando a uma área bastante populosa, que é a Grande São Paulo, com 12 milhões de pessoas. Então começamos a fazer campanhas de vacinação onde prevíamos que ele fosse chegar”, disse De Paula.

“Se fôssemos esperar aparecer casos em pessoas para começar a vacinar, haveria muito mais mortes”, disse Marcos Boulos, coordenador de Controle de Doenças da SES-SP e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

Quando o vírus chegou ao distrito de Anhanguera, 100% da população estava vacinada. Tanto que houve mortes de macacos, mas nenhuma de humanos. Em Mairiporã, 85% da população foi vacinada. Mesmo assim, um grande número de casos e mortes acometeu o município, que chegou a decretar estado de calamidade pública.

“Não conseguimos vacinar todos em Mairiporã porque é uma área de ocupação das matas, com difícil acesso. Há lugares bastante isolados, como o bairro Barro Preto, em que a população quase não sai e onde as equipes não conseguem chegar. Por isso houve ainda tantos casos”, disse Boulos à Agência FAPESP.

Além da nova forma de evitar que o vírus se espalhasse, o livro mostra como as equipes se prepararam para lidar com os doentes graves. Embora o transplante de fígado seja o procedimento padrão para falência hepática, foi definido que os pacientes com febre amarela deveriam passar na frente da fila de transplante, dado o risco de morte.

Durante a epidemia foi realizado o primeiro transplante de fígado em um paciente de febre amarela no mundo.

O trabalho foi reconhecido pela Organização Panamericana de Saúde (Opas), que colaborou com recursos durante a epidemia e patrocinou a produção do livro. Boulos foi recentemente ao Senegal a convite da Opas para apresentar os dados obtidos no Brasil e contribuir para a compreensão do vírus na África.

Fioravanti teve contato com o assunto quando produziu duas reportagens para a revista Pesquisa FAPESP. Uma delas foi a capa da edição de janeiro de 2018 e a outra foi publicada no mês seguinte.

“A nossa memória é muito curta. No trabalho com saúde pública, o tempo todo estamos correndo atrás do prejuízo, para fazer o máximo que podemos pela população. Um registro como esse é fundamental, porque as doenças não acabam, elas continuam por aí”, disse Boulos.

Uma prova é que o vírus segue matando, como lembra Regiane de Paula. “Ainda tem muita gente para ser vacinada. Nessa época do ano, com mais chuva e calor, o mosquito viaja mais rápido. Vencemos a batalha, mas não vencemos a guerra”, disse.

O livro tem projeto gráfico de Hélio de Almeida e Thereza Almeida e está disponível gratuitamente para download em http://www.saude.sp.gov.br/resources/ccd/noticias/cve/febre_amarela_miolo_web.pdf.

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.

Embaixadas brasileiras nos EUA e Reino Unido querem mapear a diáspora científica

Claudia Izique  |  Agência FAPESP – As embaixadas do Brasil em Washington e Londres querem identificar os brasileiros qualificados, que atuem em áreas ligadas à ciência, tecnologia e inovação (CT&I) em universidades, instituições de pesquisa e em empresas, públicas ou privadas nos Estados Unidos e no Reino Unido.

A ideia é articulá-los em rede e também conectá-los com suas contrapartes em território brasileiro, de forma a facilitar a circulação de ideias, de conhecimento e de experiências e ampliar as oportunidades de intercâmbios científicos e tecnológicos, além de negócios entre os países.

Em entrevista à Agência FAPESP em janeiro de 2018, o embaixador do Brasil em Washington, Sérgio Amaral, sublinhou que a intenção não é disciplinar a cooperação entre brasileiros no Brasil e no exterior, que, como ele disse, já é grande, mas compartilhar a experiência dos brasileiros que estão nos Estados Unidos.

A embaixada brasileira em Washington realizou dois encontros da diáspora brasileira em CT&I, o primeiro em dezembro de 2017 e o segundo em dezembro de 2018. A embaixada brasileira em Londres fará o primeiro encontro no dia 14 de fevereiro, em Londres, no Workshop: Brazilian Diaspora of Science, Technology and Innovation in the UK. O evento ocorrerá em seguida à FAPESP Week London, que será realizada nos dias 11 e 12 de fevereiro.

O mapeamento da diáspora brasileira nos Estados Unidos será realizado por pesquisadores do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (Nepp) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O acordo que possibilitará essa cooperação foi assinado pelo embaixador Sérgio Amaral e pelo reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, em 7 de dezembro de 2018.

“O projeto tem por objetivo último fazer um diagnóstico e propor políticas para compreender como a CT&I no Brasil pode obter ganhos com a circulação e fixação de brasileiros de alta qualificação e com atuação na área de CT&I nos Estados Unidos”, disse Ana Maria Carneiro, coordenadora do projeto no Nepp.

O desafio, segundo Carneiro, está em produzir subsídios para o “reforço e elaboração de políticas públicas acerca da diáspora brasileira nos Estados Unidos que possam ser mobilizadas pelo Ministério das Relações Exteriores, em específico, pela Embaixada Brasileira em Washington, a fim de potencializar oportunidades e ganhos para o Brasil”, disse.

Esse diagnóstico inclui estimar o número de brasileiros com atuação na área de CT&I, identificar as áreas geográficas e de conhecimento, instituições de vínculo, conexões já existentes, interação com agências de fomento, entre outros.

A diáspora brasileira nos Estados Unidos soma cerca de 450 mil pessoas, de acordo com estatísticas do American Community Survey. “Outra base de dados, da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico], estima que 75 mil têm ensino superior. Os brasileiros com atividades ligadas à CT&I são um subconjunto dos que têm essa qualificação”, disse Carneiro.

Não será possível identificar todos os brasileiros com esse perfil, ela ressalva. Vamos iniciar pela lista de nomes relevantes já identificados pela embaixada em Washington, para os quais enviaremos questionários. A expectativa é que o levantamento se amplie pelo efeito ‘bola de neve’”, disse, levando em conta o grande número de brasileiros que, desde 2010, já se articulam em redes nos Estados Unidos (leia mais sobre as redes de brasileiros nos Estados Unidos em: http://revistapesquisa.fapesp.br/2019/01/10/conexoes-de-longa-distancia/)

A coordenadora do projeto do Nepp sobre a rede de diáspora participará do encontro em Londres que reunirá especialistas em circulação internacional de talentos para avaliar maneiras de potencializar os benefícios de o Brasil contar com um número grande de brasileiros em instituições no país.

Pesquisadores brasileiros no Reino Unido

“O Reino Unido é um dos principais destinos dos bolsistas do governo brasileiro”, disse Carlota Azevedo Bezerra Vitor Ramos, chefe dos Setores de Cooperação Educacional e Cooperação Científica da embaixada brasileira em Londres.

A embaixada estima que vivem no Reino Unido cerca de 500 brasileiros estudantes de doutorado ou pesquisadores visitantes com financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação (MEC); Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e às Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) dos Estados, incluindo a FAPESP.

“Não temos, atualmente, estimativa do número total de brasileiros presentes no Reino Unido na área de CT&I. É importante sublinhar que muitos não se registram no Consulado brasileiro, visto que têm passaporte europeu. O esforço que estamos levando adiante suprirá essa lacuna de informação”, disse Ramos.

Há muita convergência entre as áreas de concentração de acadêmicos brasileiros no Reino Unido e as áreas em que o Brasil se destaca na produção científica mundial.

“Por exemplo, sabemos que muitos cientistas e pesquisadores brasileiros trabalham na área das ciências biológicas, em convênio com centros de pesquisa e desenvolvimento em locais como GSK, Kew Gardens e Rothamsted Research. O Imperial College London, especializado na área de STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharias e Matemática), fundou um Brazil Forum para manter um registro e organizar a comunidade de 164 brasileiros atualmente ligados ou egressos, assim como não brasileiros que colaboram frequentemente com brasileiros”, disse Ramos.

Ela destaca que um parceiro importante da embaixada brasileira em Londres nessa iniciativa é a Associação de Brasileiros Estudantes de Pós-Graduação e Pesquisadores (Abep-UK), que há quase 40 anos agrega estudantes de pós-graduação e pesquisadores brasileiros residentes no Reino Unido.

“Entretanto, se levarmos em conta o universo de estudantes e pesquisadores brasileiros atualmente no país, a verdade é que apenas uma parte se afilia à Abep. A maior parte dos estudantes e pesquisadores vem ao Reino Unido e fica concentrada no círculo de contatos da sua instituição ou universidade, sobretudo dos departamentos em que estudam”, disse Ramos.

“Muitas vezes os brasileiros dentro de uma mesma instituição não se conhecem. O resultado é que temos excelentes acadêmicos brasileiros presentes no Reino Unido, nas mais diversas áreas do conhecimento, mas dispersos e relativamente pouco articulados entre si. É isso que queremos mudar”, disse.

A embaixada tem contato estreito com a comunidade acadêmica brasileira no Reino Unido, sobretudo por meio dos seus Setores de Cooperação Educacional e Cooperação Científica. “Além de prestar apoio às consultas de pesquisadores e estudantes, também buscamos nos articular com as instituições que recebem nossos acadêmicos, de maneira a compreender suas necessidades, demandas e perfil”, disse.

Mantém também registro de vários cientistas brasileiros residentes em diferentes cidades do Reino Unido que auxiliam como pontos focais para engajamento da comunidade, que são chamados de “champions”. “Não raramente, temos a grata surpresa de encontrar pelo menos um cientista brasileiro nas visitas que frequentemente fazemos a centros de pesquisas e universidades daqui”, disse Ramos.

“Por meio da organização do encontro da diáspora científica brasileira no Reino Unido, buscaremos engajar a comunidade científica e acadêmica brasileira de forma articulada, que permita uma interlocução regular e dinâmica entre esses atores no longo prazo. Com base no mapeamento das redes e na criação da base de dados com os membros da diáspora, queremos promover oficinas e encontros periódicos na Embaixada, voltados aos interesses e necessidades da comunidade”, disse a chefe dos Setores de Cooperação Educacional e Cooperação Científica da embaixada brasileira em Londres.

“Temos muito interesse em levar adiante uma cooperação de longo prazo com a FAPESP e com o Nepp da Unicamp, de maneira a utilizar esse conhecimento em prol das políticas públicas brasileiras de CT&I e avançar na interlocução da diáspora com suas contrapartes no Brasil”, disse.

“Ao conhecer melhor o perfil dos acadêmicos presentes no país, teremos melhores condições de compreender suas demandas e de que forma a embaixada pode ajudá-los a promover sua pesquisa. Consideramos importante, também, que esses atores usem a plataforma da diáspora para trocar informações entre si, facilitar trabalhos conjuntos e formar redes de apoio, sobretudo no acolhimento de estudantes e pesquisadores recém-chegados ao país”, disse Ramos.

Mais informações sobre o Workshop: Brazilian Diaspora of Science, Technology and Innovation in the UK: www.fapesp.br/eventos/diaspora-uk

 

Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.