
André Julião | Agência FAPESP – Uma chamada de propostas lançada pela FAPESP em dezembro está movimentando a comunidade científica paulista. A Fundação vai investir até R$ 200 milhões para apoiar a melhoria da infraestrutura de biotérios de pequenos animais e da biossegurança de instalações de pesquisa do Estado de São Paulo.
Serão cinco faixas de financiamento: infraestrutura de biotérios, biossegurança das instalações de biotérios de utilização, adequação aos princípios dos 3Rs (redução, refinamento e substituição, na tradução do inglês), reprodução assistida para biotérios de produção e biossegurança para laboratórios e casas de vegetação (leia mais em: agencia.fapesp.br/53644).
“Além de adequar os biotérios paulistas às normas que passarão a ser impostas pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal [Concea], teremos um salto de qualidade nas pesquisas, à medida que poderemos ter mais biotérios com níveis ainda mais elevados de biossegurança, produção de animais livres de patógenos específicos e mesmo a redução do uso desses modelos”, avalia Marcio de Castro, diretor científico da FAPESP.
Pequenos animais como ratos e camundongos são largamente utilizados em pesquisas biomédicas, que investigam mecanismos de doenças e ação de fármacos e vacinas, por exemplo. Os biotérios são os locais onde esses animais são produzidos e mantidos, seguindo normas rígidas de bem-estar e biossegurança.
Graças a isso, é possível ter maior segurança de que os resultados dos experimentos refletem as intervenções realizadas pelos pesquisadores, e não fatores como o estresse ou a contaminação dos animais.
O edital chega num momento em que biotérios de todo o Brasil precisarão ser licenciados pelo Concea, órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) responsável pelo bem-estar dos animais e pela biossegurança dessas instalações.
“Historicamente, as instituições de pesquisa investem pouco nos biotérios, uma vez que o produto final são animais, e não artigos científicos, patentes etc. O que é uma contradição, pois os resultados das pesquisas só são possíveis porque existem os biotérios”, diz à Agência FAPESP Luisa Maria Gomes de Macedo Braga, coordenadora do Concea.
Nos próximos meses, o órgão deve publicar uma resolução normativa definindo as diretrizes a serem seguidas pelas instituições que possuem biotérios para serem licenciadas pelo MCTI. Estas terão até seis meses para se adequar às normas.
Em carta enviada à FAPESP, Braga afirma que os biotérios são elementos fundamentais na cadeia de produção do conhecimento científico de excelência, especialmente na área de biomedicina e ciências agrárias, e desempenham um papel crítico na garantia do bem-estar animal e na reprodutibilidade dos estudos científicos.
“Iniciativas como essa [chamada] promovem não apenas o fortalecimento da infraestrutura de pesquisa, mas também a adesão aos princípios dos 3 Rs e o cumprimento dos preceitos normativos nacionais e internacionais que regem o uso ético de animais”, escreveu Braga.
Segundo a especialista, ao priorizar o apoio a biotérios, a FAPESP reafirma seu compromisso com a excelência científica, a sustentabilidade e a ética na pesquisa, inspirando outras agências e instituições a seguirem o mesmo caminho.
Infraestrutura
“O Estado de São Paulo tem um número muito grande de biotérios, alguns em nível de excelência, mas outros precisando de melhorias significativas. Esperamos que os grupos de pesquisa se unam para propor projetos que melhorem esse cenário, fortalecendo a ciência de São Paulo, como referência para o resto do país”, destaca Sergio Costa Oliveira, coordenador-geral de Programas Estratégicos e Infraestrutura da FAPESP.
Oliveira lembra que as propostas precisam ter caráter multiusuário, com pelo menos cinco projetos de pesquisa associados. Embora os proponentes devam ser pesquisadores responsáveis por projetos já apoiados pela FAPESP, os dirigentes acreditam que a comunidade científica do Estado, como um todo, será beneficiada.
“A partir do momento que se tem um biotério de produção que forneça animais de qualidade, não só outras universidades e institutos de pesquisas podem adquirir esses animais, como mesmo empresas”, pontua Silva.
As propostas devem ser submetidas exclusivamente por meio do Sistema de Apoio à Gestão (SAGe) até 30 de abril.
A chamada está disponível em: fapesp.br/17311.